Rodrigo Dias
Cada geração é regida por um signo. Algo que a marque e caracterize como tal. Entendê-lo é importante para compreender o que o povo de cada época pensa e espera de si e da sociedade em que está inserido.
São vários os signos que caracterizam o tempo atual. Interatividade e conectividade são alguns deles. Revelam que o mundo deixou, e faz tempo, de ser um local sem fronteira e que a informação nunca foi tão fácil de ser acessada.
Mas há outra denominação que ouvimos ou lemos por aí com alguma frequência: a tal da ostentação. Para os mais atentos, trata-se de uma releitura contemporânea do “ter” em detrimento do “ser”.
A ostentação, que perversamente virou moda, está aí. Do playboy ao morador da periferia todos ostentam em algum nível. É tudo maximizado. Situações que por vezes afrontam o sentido e o gosto do outro.
Ouvi por aí um comentário interessante:
– Atualmente, é mais fácil ostentar um tablet ultramoderno do que a possibilidade de leitura ou de pesquisa que este aparelho representa.
Valorizam-se as coisas mais do que as possibilidades que elas representam. Bem ao estilo daquele velho comercial de TV: Eu tenho. Você não tem.
Ostentação é ouro de tolo, mas mesmo assim – e mesmo que seja de forma inconsciente – caímos neste engodo. Talvez estimulados pelos inúmeros apelos produzidos por esta nova cultura que está intimamente ligada ao consumismo.
Mais do que um gênero atribuído a uma manifestação cultural, a ostentação se enraíza porque, exatamente, ganhou o status de moda. De uma tendência. Tão forte que nem a crise espanta. Sempre há os corajosos que fazem seus sacrifícios financeiros e de orçamento em nome da ostentação.
Ouvi do Bruno Gouveia, líder da banda Biquíni Cavadão, uma comparação entre ostentação e contestação envolvendo o funk e o rock. Aquela última, segundo ele, é a natureza do rock.
Numa sociedade ainda tão estratificada social e economicamente, num ambiente em que a corrupção impera e que o acesso a uma vida digna ainda é uma utopia para muitos, faz sentido ampliar este raciocínio do Bruno.
Precisamos mesmo é de mais contestação. Contrapor ao sistema em busca de novos modelos e quando se achar que avançou é porque é hora de contestar de novo.
O signo contestação, no seu melhor aspecto, abomina o conformismo. Nele não há muito espaço para pensamentos herméticos ou pasteurizados. Contestar é não se dar por satisfeito.
Diferente da ostentação que virou moda, a contestação é estado de espírito. Não adianta parecer contestador. Só se consegue sendo.
Condição que é muito mais do que pura aparência.