As fotos foram retiradas do Facebook pela filha de Arlem (Foto: Amanda Quintiliano)

A prisão de Arlem Silva Amaral, pastor da Igreja Pentecostes Independente, foi derivada de uma denúncia feita pelo projeto “Somos Amados”. No dia 18 de junho, a advogada da entidade, Ellen Lima apresentou numa peça denominada Notitia Criminis à delegada de Estelionato da Comarca, Adriene Lopes de Oliveira com vários contratos de gaveta e comprovantes de depósito em nome do suspeito, apontando a comercialização ilegal de terrenos doados à instituição e também às Obras Assistenciais Frederico Ozanan.

A reportagem do PORTAL teve acesso com exclusividade as cópias e documentos anexados à denúncia e ao inquérito. Ao todo, 25 terrenos foram negociados por Arlem sem autorização. O levantamento feito pelo projeto revelou que foram depositados nas contas do Pastor R$ 957.638,35. Esse montante é referente a venda ilegal dos terrenos. Mas, o número é ainda maior quando consideradas as negociações e valores a receber. O prejuízo pode chegar a R$ 1.734 milhão.

A advogada do Projeto aguarda a conclusão do inquérito para tomar novas medidas (Foto: Amanda Quintiliano)

A advogada do Projeto aguarda a conclusão do inquérito para tomar novas medidas (Foto: Amanda Quintiliano)

“O projeto forneceu toda a documentação que tinha disponível, além de indicar as pessoas envolvidas para que a polícia chegasse a conclusão e finalizasse o inquérito”, afirma a advogada.

A denúncia foi apresentada pelo projeto, após notarem que, apesar do desaparecimento, Arlem havia levado celular, notebook e havia apagado todo o HD do computador pessoal da casa dele. Por acharem a situação suspeita, os membros da diretoria do projeto fizeram um levantamento no computador da entidade e encontraram cópias dos contratos de gaveta.

Arlem desapareceu no dia 12 de junho, uma sexta-feira. Numa reunião de emergência convocada pelo Conselho Fiscal e realizada no dia 16 de junho, os membros presentes decidiram pela destituição do Pastor do seu cargo de diretor da entidade. Dois dias depois, foi protocolizada na Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio a denúncia de apropriação indébita e estelionato contra o Pastor, com base na documentação que tinha sido apurada e descoberta pela entidade.

A advogada se baseou nos contratos assinados e comprovantes de depósitos bancários realizados na conta particular de Arlem, além de cópias dos documentos que foram repassadas pelas vítimas.

A destituição do cargo foi confirmada no dia 07 de julho em assembléia geral Extraordinária realizada na sede do Projeto, onde participaram os membros da entidade e algumas das vítimas do Pastor.

Pastor se apropria indevidamente de terrenos

A denúncia foi protocolada no dia 18 de junho e processada no dia 24 de junho (Foto: Amanda Quintiliano)

A denúncia foi protocolada no dia 18 de junho e processada no dia 24 de junho (Foto: Amanda Quintiliano)

 

Os terrenos foram doados através de testamento realizado por Escritura Pública, que após o falecimento da doadora em 2013, foi devidamente apresentado em juízo e determinado seu cumprimento em ação judicial. No referido testamento, a doadora doou bens imóveis para duas entidades e para suas irmãs que estivessem vivas à época do seu óbito.

Ao todo foram 67 lotes doados em comunhão, sendo metade para o projeto Somos Amados e metade para as Obras Assistenciais Frederico Ozanan. O testamento não especificava quantos e quais seriam para cada uma delas. Com isso, qualquer venda, alienação ou permuta, poderia ser feita apenas com assinatura das duas entidades, e após os trâmites legais, ou seja, com a finalização do inventário, que ainda não ocorreu. 

“Esse inventário nem terminou, então juridicamente, estes bens nem pertencem ao projeto. Não poderiam ter sido vendidos pelo Sr. Arlem por dois motivos: por não pertencerem ainda ao projeto e pelo fato que os bens são em comunhão com outra entidade assistencial”, explica Ellen.

As Obras Assistenciais Frederico Ozanan não participaram de nenhuma das negociações encabeçadas por Arlem, nem mesmo a diretoria do Projeto Somos Amados tinha conhecimento. As únicas vendas autorizadas pelas duas entidades foram de três lotes, no qual o valor arrecadado foi para pagar o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCD). De acordo com o recebido, foram desembolsados R$ 255 mil para pagar o imposto. Todo o processo teve embasamento jurídico, e inclusive feito com contrato de compra e venda devidamente assinado por todos os interessados, e ainda pelas herdeiras/irmãs da falecida.

Isso foi necessário porque o inventário ainda não foi concluído. As divisões e vendas só podem ser feitas após a conclusão do documento.

Arlem estava desaparecido desde o dia 12 de junho (Foto: Diego Henrique)

Arlem estava desaparecido desde o dia 12 de junho (Foto: Diego Henrique)

Corretor faz churrasco para atrair compradores

Para comercializar os lotes, o Pastor contou com a ajuda de um corretor (o nome será preservado) que oferecia os imóveis a pessoas conhecidas, e segundo relato de alguns compradores, este corretor chegou a oferecer um churrasco na casa dele para oferecer os bens. Não bastasse, ele era o responsável em receber as parcelas em nome de Arlem, pois algumas vítimas chegaram a dar entrada em espécie e parcelavam o restante, sendo que, tinham parcelas de R$ 1 mil por mês.

Em todas as negociações mencionadas nos contratos de gaveta, um percentual do monte ficava com o corretor, como comissão. Em uma das negociações ele ganhou aproximadamente R$ 14 mil. Além de dinheiro, Arlem aceitou como pagamento sítio e carros. Ao proprietário do sítio, ele disse que iria abrir uma casa de recuperação no local. Já os carros, um Gol e um microônibus estão com a entidade, um Corolla foi vendido e a Hilux, usada por ele no dia do desaparecimento, foi transferida para o nome dele.

Segundo informações da Delegada, o veículo Hilux já foi apreendido, eis que a entidade na denúncia requereu a busca e apreensão do referido automóvel. Aos membros da diretoria, o Pastor dizia que a Hilux foi herança do pai dele, que faleceu no ano passado. Entretanto, o inventário não foi concluído. De fato, ele tem a receber três imóveis, um em Crucilândia, outro em Contagem e um em Mateus Leme. Um valor em dinheiro, não informado, também está entre os bens a herdar por ele.

Família fica na rua da amargura

As falcatruas não param por aí. Arlem negociou a compra de um imóvel, de R$ 450 mil, no bairro Alvorada. Ele e a família já estavam morando no local. Entretanto, ele nunca chegou a pagar o montante. No acordo feito com o proprietário, o Pastor acertou o pagamento do aluguel por quatro meses e ficou de quitar, em valor integral, agora em setembro.

A esposa e os dois filhos do Pastor tiveram que sair o imóvel. A família da mulher a ajudou a alugar um apartamento onde mora com os filhos.. A única fonte de renda da família era Arlem.

Loira seduz Pastor

As fotos foram retiradas do Facebook pela filha de Arlem (Foto: Amanda Quintiliano)

As fotos foram retiradas do Facebook pela filha de Arlem (Foto: Amanda Quintiliano)

Todas as pistas, como lista com os nomes das vítimas, comprovantes de depósitos em nome de Arlem, foram apresentadas pelo projeto Somos Amado. A esposa dele também ajudou a levantar as provas. Ela foi peça fundamental para provar que o marido estava com outra mulher. Com a ajuda de familiares ela conseguiu encontrar no Facebook a página da amante dele, e foram reveladas as fotos que comprovavam.

Em momento nenhum, a mulher (amante) escondeu o caso. A fotos do casal com data anterior ao desaparecimento dele foram postadas na rede social. No dia 23 de julho ela alterou o perfil para “casada”. Hoje (07) ela fez novas postagens com fotos dos dois e escreveu: “Tudo vai dar certo no tempo certo estarei sempre com vc”. Em outro post está escrito: “Para as pessoas q ta me julgando so lamento pois não desisto fácil vou até o fim pois apenas to no começo”.

Arlem estava morando em Corinto, região Central do Estado, cidade onde vive a família da mulher. Lá, abriu uma espécie de bar. Entretanto, era comercializado desde bebidas a roupas e objetos. No momento da prisão, ele estava neste estabelecimento.

De acordo com a delegada, a mulher é garota de programa e ainda não há suspeita do envolvimento dela no crime. Uma oitiva com ela será marcada. A data não foi divulgada. A polícia quer saber se ela tem envolvimento com o crime e se sabe onde está o dinheiro. Todas as contas do Pastor estão zeradas. Ele teve todos os bens bloqueados pela justiça.

Arlem teve a prisão provisória decretada e está no Presídio Floramar de Divinópolis. Com a conclusão do inquérito, o projeto tomará as medidas judiciais para o ressarcimento do eventual prejuízo que ele tenha causado. De acordo com a advogada, a diretoria da entidade está em contato com as vítimas e disse que irão trabalhar para que nenhuma pessoa seja prejudicada.

A diretoria das Obras Assistenciais Frederico Ozanan também irá aguardar a decisão da justiça para entrar em acordo com o Projeto.

Arlem

O Projeto Somos Amados foi fundado em 2008. Arlem esteve à frente dele até 2011. Em 2012 e 2013 deixou o cargo e retornou à presidência em 2014 para o mandato até 2018, mas foi destituído.