“Ultrapassar as diferenças ideológicas e os projetos pessoais em geral dá mais trabalho aos oposicionistas do que se pode pensar à primeira vista.”

Márcio Almeida *

É conhecida a dificuldade que têm os membros da classe política de abrir mão de uma candidatura e compor uma frente de oposição para enfrentar mandatários que possam vir a disputar a reeleição para cargos do Executivo. Ultrapassar as diferenças ideológicas e os projetos pessoais em geral dá mais trabalho aos oposicionistas do que se pode pensar à primeira vista.

É o que se verifica em Divinópolis. Não será fácil construir um grupo de oposição que enfrente em 2024 uma possível recandidatura do atual prefeito. Ainda mais difícil, entretanto, será fazer esse enfrentamento ter alguma chance com muitas candidaturas oposicionistas, as quais costumam contribuir matematicamente para o sucesso eleitoral de quem está no exercício do cargo e conta com a visibilidade que ele traz. A frente mais ampla possível é, portanto, o caminho menos difícil para os opositores divinopolitanos.

Construir essa frente supõe antes de tudo uma definição dos nomes disponíveis, que podem passar por uma avaliação quanto à sua aceitação popular. Como costuma ocorrer em se tratando da busca de nomes para a disputa eleitoral, em Divinópolis há quem possa disputar em condições competitivas e não queira, quem queira disputar e não possa fazê-lo de modo competitivo, assim como quem queira e possa entrar na disputa em boas condições. Desta última categoria é que geralmente saem os nomes para a cabeça de chapa.

Ocorre que é bastante reduzida no atual cenário político divinopolitano a lista dos políticos que querem e podem disputar a próxima eleição municipal em condições competitivas. Isso conduz a estratégia à possibilidade não desprezível de considerar nomes hoje fora da política militante, alargando as alternativas dos oposicionistas. Neste caso, como mostra a experiência histórica dentro e fora de Divinópolis, o mais comum é uma chapa que misture os que já estão na militância partidária e os que vêm se juntar a ela.

Avaliações

Na estratégia dos oposicionistas, além da definição de nomes, será preciso reservar tempo à avaliação minuciosa do desempenho da atual administração, que já consumiu mais da metade do seu tempo de trabalho no mandato. Do mesmo modo, será necessário avaliar o xadrez político e nele determinar a posição das peças que têm força e podem contribuir para o sucesso da oposição. Ambas as avaliações mostram possibilidades e obstáculos.

Quanto à avaliação da atual administração, até aqui não é possível dizer que ela trouxe à sociedade divinopolitana soluções impactantes. Há algumas melhorias significativas, entre outros setores, na estrutura física de prédios da rede municipal de educação e em obras de infraestrutura urbana, assim como há problemas sérios, entre eles a deficiência em quantidade e qualidade da rede de atenção básica da saúde, a situação do transporte público e a falta de medidas de sustentabilidade, inclusive no que diz respeito a setores como o de processamento de resíduos da construção civil.

E há setores como o da cultura, que vem mostrando criatividade e dinâmica constrangedoramente baixas, e de desenvolvimento econômico, que até agora não trouxe a público nenhum resultado realmente significativo.

Mediana até aqui, a atual administração tem a seu favor um histórico de gestões passadas que, sob vários aspectos, estiveram no mesmo patamar ou abaixo dele, o que torna confortável a comparação. Esse histórico favorável à comparação por certo contribui para blindar o atual prefeito em seus reiterados arroubos de mídia, alguns deles com franco descontrole verbal pelos quais ele foi levado, em mais de uma vez, a pedir desculpas por ataques desferidos em manifestações públicas.

Quanto às forças políticas, também há facilitadores e dificultadores. O atual prefeito tem um irmão senador e um deputado federal aliado, o que é importante, mas ambos são integrantes da ala radical da oposição bolsonarista que, justamente por seu radicalismo, terá do governo federal apenas o que têm os oposicionistas radicais no Congresso: o mínimo.

Já a oposição divinopolitana tem mais de um membro com afinidade ou, pelo menos, com trânsito junto ao governo federal, o que em princípio facilita as coisas, mas não está claro ainda que tipo de ponte entre Brasília e Divinópolis os oposicionistas estão construindo nem o quão larga e sólida ela será.

Em relação ao governo do estado, a situação é mais confortável para o grupo político da atual administração, cujo prefeito, aliás, acaba de filiar-se ao partido do governador, além de ter um irmão no parlamento estadual mineiro. Entretanto, parte considerável do que o governador pode fazer de significativo está atrelada a entendimentos com o governo federal, sobretudo em razão da questão fiscal. E esse atrelamento reforça o papel da oposição divinopolitana, que tem uma deputada estadual e outros membros próximos do atual presidente da República.

Certo é que os preparativos da oposição para o jogo eleitoral ainda estão no início. Há tempo, por certo, para definir a escalação e avaliar as forças e fraquezas do adversário. A estratégia, entretanto, precisa começar agora. Porque ninguém disputa em condições de vencer organizando-se de última hora.

  • Márcio Almeida é analista político do PORTAL GERAIS e a partir de agora passa a escrever semanalmente neste espaço.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PORTAL GERAIS.