Com 132 estabelecimentos e setor em crescimento, especialistas explicam tendências

Se existe uma certeza que une a população de Divinópolis é a de que a cidade tem cada vez mais farmácias. Quando alguém pensa que já há estabelecimentos o suficiente para atender bem aos cerca de 240,4 mil habitantes de acordo com o Censo de 2020, logo se depara com novas unidades e anúncios de mais inaugurações. Mas que fatores estão por trás desta efervescência? O PORTAL GERAIS buscou números e análises para explicar o fenômeno.

De acordo com a Receita Federal, o município tem atualmente 92 empresas farmacêuticas e 132 farmácias, das quais 9 trabalham com manipulação de fórmulas de medicamentos, enquanto outras 121 não oferecem esse serviço. Duas são homeopáticas – aquelas que trabalham apenas com fórmulas elaboradas com extratos vegetais, animais, minerais, bem como sintéticos.

De todos os 132 estabelecimentos, 62 são adeptos ao Simples Nacional – sistema de tributação simplificada cujo objetivo é facilitar o recolhimento de contribuições das microempresas e empresas de pequeno porte. Os outros 70, não.

Alta demanda alimenta oferta de medicamentos (Foto: Agência Brasil)

Fatores para crescimento

Na avaliação do economista e professor da área de Gestão e Negócios da Universidade UNA, Wagner Almeida, vários fatores contribuem para o crescimento e ele crê que cada um deles desempenha papel importante no cenário.

“O aumento da longevidade das pessoas é um aspecto crucial. À medida que a população envelhece, há uma necessidade crescente de medicamentos para tratar doenças crônicas e condições associadas à idade. Essa realidade resulta em um maior consumo de medicamentos e produtos de saúde. A inversão da pirâmide etária, com mais idosos do que jovens, reflete diretamente na forte demanda por produtos farmacêuticos”, detalha.

Wagner coordena um projeto voltado para idosos.

“Tenho observado que muitos deles estão vivendo além dos 80 anos. Para esse grupo, a demanda por remédios e cuidados de saúde é prioridade”.

Conveniências nas farmácias

Outro ponto que o especialista considera relevante é a crescente integração de serviços de conveniência nas farmácias, como vacinação, teste de glicemia e medição de pressão arterial, além da mera venda de medicamentos. A facilidade de acesso a esses serviços em um só lugar atrai mais clientes.

“Não podemos ignorar que o segmento farmacêutico já era um dos que mais cresciam antes da pandemia e desde então experimentou um verdadeiro “boom”. A conveniência é uma prioridade para muitos consumidores hoje em dia e a maioria das farmácias já está presente em aplicativos de delivery, facilitando ainda mais o acesso aos produtos”.

Farmácia Popular


A existência do programa Farmácia Popular, por meio do qual o Governo Federal distribui medicamentos em parceria com farmácias privadas, também é um grande atrativo, pois garante clientela fiel e possibilita a venda de outros produtos.

“Esses fatores, em conjunto, tornam o setor farmacêutico atrativo para investimentos. A demanda contínua por saúde e bem-estar, somada à conveniência oferecida pelas farmácias, explica o mercado aquecido”.

Drogaria na Rua Goiás; região central concentra maior parte das farmácias (Foto: Amanda Quintiliano)

Indústria da beleza influencia crescimento de farmácias em Divinópolis

Por ser um polo da indústria da moda, Divinópolis também estimula os cuidados com a beleza. Ainda conforme Wagner Almeida, a busca por cosméticos cada vez mais eficazes também fomenta o setor farmacêutico.

“Divinópolis tem um setor de beleza forte, com várias empresas e profissionais dedicados à estética e cuidados pessoais. Isso cria uma demanda natural por produtos de beleza que são facilmente encontrados em farmácias”.

Além de ser polo de confecção, cidade tem desfiles de moda que incentivam cuidados com a beleza (Foto: Divishop/Divulgação)

Além disso, pontua, consumidores estão cada vez mais influenciados por tendências de moda e saúde.

“As farmácias têm se adaptado a essa demanda, oferecendo uma variedade de produtos de marcas conhecidas e de qualidade. Essa diversificação não é um fenômeno recente. As farmácias vêm expandindo seu mix de produtos há algum tempo para atrair públicos maiores, que buscam por conveniência e variedade”.

Mercado fértil para farmacêuticos

Se há demasiada gente em busca de medicamentos e cosméticos e, por consequência, muitas farmácias, não faltam boas oportunidades para trabalhar no setor. De acordo com levantamento feito pelo Conselho Regional de Farmacêuticos de Minas Gerais (CRF-MG) a pedido do PORTAL GERAIS, Divinópolis tem atualmente 505 profissionais autorizados a atuarem na cidade.

“É necessário reforçar a importância do papel do farmacêutico na assistência primária à saúde. Com o número crescente de drogarias e farmácias, aumenta também a necessidade de garantir assistência farmacêutica de qualidade. A Lei Federal 13021/2014, que define a presença do farmacêutico em tempo integral nas farmácias, é essencial para garantir que a população receba orientação e informação adequada sobre os medicamentos para gerenciar o uso, prevenir erros e promover o consumo racional”, destaca o CRF-MG.

Ainda conforme o órgão, a presença contínua do profissional é fundamental para oferecer suporte técnico, esclarecer dúvidas, monitorar possíveis interações medicamentosas e garantir a segurança e eficácia dos tratamentos.

Presença de farmacêutico é essencial para orientar uso de medicamentos (Foto: EBC/Divulgação)

No estado, grandes marcam pressionam pequenos negócios

O Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sincofarma-MG) avalia que a nível estadual a dinâmica do mercado atual, dominado por gigantes, pressiona as farmácias de bairro.

“As grandes redes crescem mais do que as farmácias independentes devido ao faturamento. O número de pequenas farmácias cresce. Mas, no mesmo patamar em que abrem, fecham”, destaca.

Maiores redes do Brasil faturam R$ 90,1 bi

O mercado nacional é dominado por gigantes. Os 22 grupos econômicos reunidos na Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) faturaram R$ 90,1 bilhões no último ano, crescimento de 13,5% em comparação ao ano anterior. No topo do ranking, está a Raia Drogasil (que inclui a Droga Raia). A Araujo, que só atua em Minas Gerais, por exemplo, aparece em sexto lugar, com projeção de faturamento de R$ 4,4 bilhões em 2024.

Vigência do Farmácia Popular leva mais consumidores ao setor (Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil)