Rodrigo Dias

Estou para acreditar que o maior legado desta eleição não foi o seu resultado em si, mas todo o contexto em que se desenvolveu. Os últimos três meses, em especial os últimos 15 dias, geraram argumentos para estudos de toda ordem. Principalmente aqueles que visam entender melhor a sociedade brasileira contemporânea.

Nesse ponto, pode-se inferir que toda a modernidade que representa o tempo atual é terra fértil para se cultivar, ou melhor, ir de encontro a elementos antigos e que sempre foram objeto de segregação no Brasil.

É óbvio que qualquer discussão que trate desse assunto não deve ser entendida como a expressão da maioria de nós, mas é inegável que se trata de uma parcela significativa e ruidosa da população que quer expor esse pensamento torto que não cabe num país tão plural como o nosso.

Exercer o preconceito em nome de uma pseudoideologia não é algo permitido na política. Ela é uma ciência aberta, e muito mais do que gerenciar nossas vidas permite, entre outras coisas, a diversidade de pensamentos que estejam voltados para interesses nobres.

Num mundo moderno, todo indivíduo de bem tem o direito de participar do processo político eleitoral. Seja colocando o seu nome a servir ou, principalmente, por meio do exercício do voto.

Nesse aspecto, não há um voto melhor do que o outro. Todos têm o mesmo peso. Independente da classe social, raça ou fé. O poder de escolha é de qualquer cidadão (ã) e ninguém pode ser coagido por suas opções. Cada um vota de acordo com os seus valores e com as expectativas que tem sobre um determinado candidato ou legenda.

Infelizmente, no quadro atual, temos que fazer nossas escolhas entre o candidato menos ruim. O voto não é um atestado de cumplicidade ou um cheque em branco ao portador, como muitos ignorantes propagam por aí.

O voto, no meu entendimento, é uma oportunidade que é dada à boa-fé dos políticos para que contribuam com a vida de outros por meio da política. Votamos na expectativa de que as ações e planos prometidos sejam cumpridos, e caso não sejam, pelo modelo atual, a culpa não é exclusiva do eleitor. Mas, em grande parte, desse modelo corrupto que se instalou na política brasileira.

Ninguém deve se envergonhar do voto consciente. Como também não se pode contestar a eleição de um candidato eleito por vontade de uma maioria. Como o dito acima, o Brasil é um país plural e todos os candidatos tiveram votos em todas as classes.

Há de se entender que política não se faz mais de véspera. Qualquer um que deseja colocar o seu nome à disposição terá que trabalhá-lo ao longo dos anos e, assim, arregimentar seus eleitores por meio de ações propositivas.

Venceu o modelo que melhor se adequou a essa nova ordem. E a vontade da maioria deve ser respeitada, por mais que entenda o contrário. Querer forçar uma situação de instabilidade para contrariar a vontade das urnas não é fazer política. Isso é golpe, e é tão odioso quanto os gestos de preconceitos por causa do voto. Essa intenção contradiz o espírito democrático.

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