Douglas Fernandes

Na contra mão da redução ou cancelamento de vários eventos ligados à literatura por todo o país, a Festa Literária de Divinópolis (FLID) não só será realizada esse ano, como também se mostra muito mais encorpada do que sua primeira edição, em 2014. Trazendo grandes nomes da literatura nacional, como Elisa Lucinda e Cris Guerra, o evento também abre espaço para autores independentes divulgarem seus trabalhos.

Apesar de não podermos relacionar diretamente, ouso dizer que a FLID reflete um comportamento que também parece ir na contra mão de outra realidade brasileira: a baixa incidência de leitura. Segundo pesquisa realizada pelo Fecomércio do Rio de Janeiro, em 2014, 70% da população não leu, sequer, um único livro.

Temeroso pensar nesse cenário, já que em 2013 o índice de leitura era maior. Professores e estudiosos debatem a origem dessa situação, retomando o atraso na estruturação da educação ainda no início do século XX, como um dos grandes responsáveis por sermos considerados um “país analfabeto”. Mas mais do que se preocupar com a origem do problema, o momento é de buscarmos alternativas para contornar essa situação e é aqui que FLID se destaca.

Em sua primeira edição, foram quase 2000 livros arrecadados, que serviram para renovar o acervo da biblioteca pública de Divinópolis. Estimasse que o público, durante os três dias do evento (que contou com bate papo com autores, apresentações musicais e debates) foi de quase 5000 pessoas. Acredito que essa presença marcante da população mostra que há um fomento literário (e cultural) na “Princesa do Oeste” que não é comum no restante do país.

E não bastasse a realização do evento, a FLID desse ano se propõem a incentivar ainda mais o gosto pela leitura, realizando uma série de ações no mês que antecede a festa. Haverá um dia de leitura dentro das dependências da Associação de Combate ao Câncer do Centro Oeste Mineiro, um bate papo com autores nas escolas da cidade e, talvez, o mais envolvente, o “Pé de Livro”, quando árvores em praça pública amanhecem repletas de “frutos literários” para que qualquer um possa se “empanturrar” de tanto ler.

Diante desse cenário, acho que uma pesquisa na cidade apontaria que o divinopolitano não só gosta de ler, como lê bastante. E aqui não me importo se é literatura dita culta ou literatura de segundo escalão, mesmo porque, o gosto pela leitura começa com livros mais fáceis e vai ganhando corpo conforme a pessoa vai adquirindo o gosto pela coisa.

Então se para ler mais e melhor é preciso ler sempre e cada vez mais, a realização de festas/feiras/festivais literários é um ferramenta fundamental nesse processo. Mas mais do que simplesmente acontecer, o evento precisa envolver a população, como a FLID tem feito. Num primeiro momento, aquele livro volumoso que parece ser um monstro, se transforma em amigo inseparável depois que é devidamente apresentado e desmistificado.

Desconstruindo essa realidade pessimista que assola o país, a FLID vai escrevendo uma nova página na história de Divinópolis, que passa a ser referência positiva dessa iniciativa que merece ser reconhecida.