Por Rodrigo Dias

Se considerar as ocorrências dos últimos dias, que acometeram o estado do Espírito Santo – com a paralisação dos trabalhos da polícia militar – o cidadão mais revoltoso pode, com alguma tranquilidade, afirmar que vivemos numa “sociedade de bandidos”.

As cenas que rodaram os veículos de comunicação e as redes sociais e expuseram ao mundo um povo bárbaro dado a saques, assassinatos e outros crimes, foram vergonha não só para os capixabas, mas para todo brasileiro.

Criminosos de ocasião, os ditos cidadãos comuns aproveitaram a ausência de policiamento para cair em delito. Diante de tudo o que ocorreu um fato é bem claro para mim:

A Lei não é a ordem. A ordem é o “espírito de conduta” do homem de bem. O “espírito de conduta” independe de qualquer institucionalizado ou convenção.

Não faz sentido o cidadão incorrer em crimes em função da ausência da “autoridade”. Se for assim, quer dizer que só seremos pessoas retas se o tempo todo houver o risco da punição? E a questão moral do que é certo e errado, onde fica? Será que as pessoas foram compelidas a agir assim em função do “efeito manada”?

Qualquer que sejam as respostas para estas e várias outras questões que possam ser feitas em função dos acontecimentos da última semana, uma coisa é certa: mais do que passar por um momento de degradação social, passamos por um momento de degradação do homem.

O ocorrido no Espírito Santo foi mais um recorte como de outras tantas situações que põem em xeque a moral do brasileiro. Seja no campo político ou nos atentados contra a vida, promovidos pelo crime organizado, por exemplo.

Situações como estas e outras mais podem até não refletir o que é o brasileiro na sua maioria, mas deixam refém o cidadão de bem. Pior do que isso, desmotivam aqueles que acreditam que o Brasil pode dar certo, apesar de suas mazelas.

Mesmo com todo o constrangimento é importante discutir e analisar todas estas situações. Compreender porque ocorrem. Entender melhor essa necessidade do brasileiro em querer dar um jeitinho em tudo e tirar vantagem disso.

Em alguns contextos estas expressões podem soar inofensivas, mas não são. O tal jeitinho brasileiro e a nossa malandragem deixam o país falido. É coisa do passado sem serventia num mundo moderno.

No meu entendimento, tão pior que saquear estabelecimentos comerciais foi ver delegacias cheias de artigos roubados que foram devolvidos por quem saqueou. Devolvidos não por um puro arrependimento moral, mas porque muitos foram filmados e tiveram a imagem exposta num assunto que envolveu todo o país. Devolver não atenua o ato de roubar, não mesmo.

Enquanto criarmos uma falsa moral para legitimar atos que não são corretos, veremos cenas como as da última semana, seja no Espírito Santo, em Brasília, ou em outro lugar. Cenas que poderão ser escancaradas aos nossos olhos ou tramadas pelas costas.

Um verdadeiro escárnio ao cidadão de bem