Ao mesmo tempo em que a situação gera preocupação, Eduardo Mattar destaca a região como uma das mais preparadas de MG para um eventual pico
O Complexo de Saúde São João de Deus, em Divinópolis, está recebendo os pacientes com o mais alto nível de complexidade de Covid-19 da região. Referência para 54 municípios, a situação já era esperada, mesmo assim tem surpreendidos os profissionais de saúde com o agravamento do quadro clínico. Até a manhã da última sexta-feira (26) 78% dos 40 leitos no Centro de Terapia Intensiva (CTI) estavam ocupados, deles 30 são do SUS.
“Estamos vendo casos mais graves do que imaginávamos, por mais que o hospital de campanha da UPA tenha alguns leitos disponíveis, muitos pacientes não conseguem ser tratados lá e precisam ser trazidos para o hospital porque eles precisam de procedimentos específicos, por exemplo, hemodiálise”, afirma o diretor clínico, Eduardo Mattar.
O hospital de campanha instalado no estacionamento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) é referência para oito cidades em coronavírus. São 35 leitos de CTI exclusivos para Covid-19, deles sete estava ocupados até a manhã de sexta (26). Há ainda outros 20 de enfermaria.
O aumento dos casos, principalmente, os mais graves, trazem outro temor: a falta de medicamentos para o tratamento de pacientes que necessitam de respiradores. Os valores, segundo o diretor clínico, estão inflacionados e o hospital busca meios de contornar a situação.
Região preparada
Ao mesmo tempo em que os números e o risco de colapso do sistema de saúde em Minas Gerais, geram preocupação, o maior hospital do Centro-Oeste, sente-se tranquilo para classificar a região como “a mais preparada do estado” em um eventual pico.
“O Brasil é muito heterogêneo, é muito grande, tem vários níveis sociais, diferentes níveis de saúde e Minas Gerais também é um estado grande, populoso, e consigo falar com tranquilidade que a região Oeste é uma das melhores e bem preparadas para aguentar esse pico”, afirmou.
A previsão das autoridades em saúde é que a curva atinja o nível mais alto em meados de julho.
Salvar vidas
Além de lidar com a curva ascendente no novo coronavírus, com o risco de colapso do sistema, a diretoria ainda precisa contornar outra questão: o impacto emocional dos colaboradores.
“No começo existia uma apreensão muito grande dos profissionais de saúde de adquirirem a doença porque aqui seria e é o local de mais circulação de pessoas com a doença”, lembra.
O preparo, distribuição de equipamentos e a pequena evidência de infecção inter-hospitalar, tornou o ambiente mais tranquilo. Também houve a ajuda voluntária do setor de psicologia. Mesmo assim, ainda há o reflexo pessoal, além das portas do hospital.
“Vou dar um exemplo, eu mesmo, que estou com recém nascidos. São gêmeos, nasceram aqui no hospital em meio a pandemia, eles estão completando dois meses e sempre que chego em casa tem um estresse, todo o cuidado para não levar contaminação para dentro de casa”, conta.
Os sapatos ficam do lado de fora da residência. Ao entrar, o médico troca as roupas, toma banho, higieniza bem as mãos e sempre que possível usa máscaras dentro de casa.
“É o que devemos fazer, temos que nos adaptar a essa rotina porque não tem como todos da linha de frente ser afastados”, destaca.
Adaptação que vai além dos profissionais de saúde. Mattar alerta a população e pede colaboração com o único objetivo “salvar vidas”.
“O coronavírus veio mesmo, tem gente que não acredita nisso. O hospital está cada vez mais cheio deste tipo de paciente e eu peço a colaboração de todos porque as medidas de isolamento são as mais eficazes”, alerta.
A concessão de hábitos rotineiros, como evitar aglomeração, é, para ele, a medida mais eficiente para dar a volta por cima.
“Peço todo mundo, especialmente neste momento, que fiquem em casa e que entendam que devemos, as vezes, tomar medidas mais restritivas quanto ao comércio, porque é necessário para salvar vidas, se a gente fizer isso com muita eficiência, com muita vontade, isso passa rápido e voltamos a vida normal em breve”, afirma.
No início da pandemia, a região Centro-Oeste contava com 89 leitos de UTI. A previsão da Secretaria de Estado de Saúde (Ses) era ampliar para pelo menos 198, com vagas distribuídas em 13 cidades.