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Rodrigo Dias

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Como milhares de pessoas, descendo de uma família católica. Logo cedo, fui catequizado e recebi todo o conjunto de informações que a igreja repassa aos seus fiéis. Já mais velho, como ocorre com todos, recebi outras influências que foram moldando o meu caráter e as minhas convicções acerca da vida, de mim e dos outros.

Isto se chama, obviamente, crescimento. Amadurecemos a cada informação e experiência nova. Mas amadurecer, por vezes, vem com os seus conflitos. Principalmente quando estão no centro das discussões questões que julgamos ortodoxas, em relação àquilo que se apresenta mais lógico e, portanto, mais próximo do real.

É neste contexto, que ouso fazer minha consideração acerca da discussão que anda tomando conta da política e da sociedade no que tange à nova concepção de família no ordenamento jurídico brasileiro.

Os mais tradicionais, entre eles os religiosos de toda ordem, defendem a família composta por um homem, uma mulher e seus descendentes. Já os mais liberais não se apegam a este tipo de pensamento e consideram família qualquer núcleo, seja homem com homem ou mulher com mulher, em que se habita o amor e o respeito para sustentação desta família. Para este grupo família transcende a questão sexual, entre a união de um homem com uma mulher.

Quem está com a razão? Sem parecer estar em cima do muro, digo que os dois casos têm suas razões. O que se tem hoje, opino, é a existência de dois tipos de família. A família natural: aquela composta por um homem e uma mulher, que em condições normais de saúde do casal têm a faculdade biológica de procriar. Gerar filhos e garantir a existência da espécie.

A outra família, gerada por uma sociedade moderna e desprovida de preconceitos, é a família social. Diferente da primeira não procria, mas que ninguém duvide da sua capacidade de criar, e bem, os seus filhos.

Os religiosos mais fervorosos se apegam à sagrada família – José, Maria e o menino Jesus – para defender o modelo tradicional de família. É neste exemplo também que os defensores da família social podem se apropriar para diminuir a rigidez dos mais resistentes à nova estrutura familiar. Afinal, Jesus foi um ser divino. Oriundo de uma força maior do que a simples conjunção entre um homem e uma mulher. Uma divindade que está além da compreensão humana. É amor incondicional, puro.

O fato de entender e reconhecer a família social não extingue a família natural. Por mais que o nosso preconceito diga o contrário elas vão coexistir. Os conflitos vão diminuir à medida que a sociedade estiver mais flexível e madura. Este é o grande dilema: por vezes as leis se sofisticam de forma mais rápida do que os costumes da sociedade em que estão inseridas.

Nestes casos, a paciência é faculdade a ser trabalhada entre os envolvidos com esta nova ordem. Como também a tolerância deve ser trabalhada entre os mais conservadores, mas que devem entender que a sociedade é algo dinâmico. Mais cedo ou mais tarde haverá a necessidade de se ajustar a um novo tempo.

Seja ela natural ou social, a família para ser boa tem que ter afeto. Entre o casal e a prole. Ela, a família, é o primeiro núcleo da sociedade e é dela que virão os princípios básicos que nortearão todo o resto que será absorvido pelo indivíduo ao longo da vida.

Neste caso, o equilíbrio na família não é apenas o equilíbrio de gênero. Mas das intenções. Quem forma uma família se compromete com o mundo a passar para sua descendência conceitos positivos que vão contribuir para a sociedade nos séculos que estão por vir.

Dentro da família, o papel e a importância do homem e da mulher se alteraram nos últimos dois mil anos. Entender e aceitar a nova estrutura familiar legal é só mais uma destas transformações.

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