Rodrigo Dias
Viver não é o problema, conviver é que é o dilema. Este dito popular encerra um raciocínio em torno de uma das grandes dificuldades do homem: o relacionamento.
Conviver com o outro nem sempre é tarefa fácil, e num ambiente individualista e competitivo, estimulado pela economia de capital, relacionar sempre traz lá os seus atritos.
Existem algumas estratégias que tornam essa convivência mais harmoniosa. A inteligência emocional é uma delas. Reconhecer pontos de identificação no outro, e usar isso para construir uma ponte que facilite o relacionamento, é um elemento marcante dessa técnica.
Mas pode vir das artes marciais uma filosofia importante a ser aplicada no gerenciamento dos relacionamentos e, em especial, na resolução de conflitos. Quem não gosta muito de MMA (Artes Marciais Mistas) com certeza deve sentir arrepios ao ver dois marmanjos se atracando no chão numa alternância de chaves e alavancas diversas a fim de sucumbir ou imobilizar o seu oponente.
Resumidamente este é o jiu-jitsu (suavidade da técnica/arte) que é de origem japonesa, mas o Brasil encampou esta nobre arte oriental e hoje é uma referência mundial.
Dentro da prática desta luta é possível a um oponente menor e menos poderoso vencer um mais forte. Para isto o jiu-jitsu se baseia em três princípios básicos: movimento, equilíbrio e alavanca.
Este conceito do jiu-jitsu, que me fora apresentado por um amigo e professor acadêmico, pode ser aplicado aos relacionamentos. Não para simplesmente subjugar o outro e mostrar poder, mas como forma de atenuar os conflitos.
Num relacionamento há sempre uma ação que nos compele a outra. É aí que entra a tática do movimento. Perceber a movimentação do outro e não ser afoito ou estabanado no seu movimento é um ponto importante. Tudo haverá de ser medido.
Para que o movimento seja preciso, e alcance o resultado proposto, é necessário ter equilíbrio. Ter consciência das suas potencialidades e limitações é fundamental para que se faça, sempre, a melhor opção. A mais estratégica e menos dolorosa.
Na vida os embates são inevitáveis. Saber utilizar a força do seu oponente a seu favor indica sabedoria. A alavanca certa permite controlar uma situação. A aparente fragilidade nossa se transforma em força que é utilizada em nosso favor.
Qualquer arte marcial só faz sentido se for possível solver o seu sentido filosófico e que vale para a vida. Aprendê-las simplesmente para dar pancadas nos outros é inutilizar o que elas têm de melhor.
Neste contexto, ninguém aprenderá o jiu-jitsu para aparentar força. Pelo contrário, esta filosofia permite o autoconhecimento. E é este o seu grande sentido. Uma técnica da suavidade que às vezes escapa até dos olhos mais atentos.
É fato que a vida não é tatame, mas é fato também que enfrentamos vários leões por dia. Ter equilíbrio nestas horas, bem como fazer o movimento certo e utilizar a alavanca mais correta para suplantar os desafios imprimidos pelos relacionamentos – mesmo você sendo a parte mais fraca – é sinônimo de grandeza.
Isto jiu-jitsu ensina. Apreenda.