Amanda Quintiliano

 

Vários militantes e lideranças regionais acompanharam o encontro (Foto: Amanda Quintiliano)

Vários militantes e lideranças regionais acompanharam o encontro (Foto: Amanda Quintiliano)

Sem a presença do candidato ao governo de Minas, Fernando Pimentel (PT), mas já preparando o terreno para recebê-lo na próxima terça-feira (12), militantes do partido realizaram, na tarde de um hoje, um encontro regional, em Divinópolis. A gestão da saúde pública do Centro-Oeste norteou o debate que contou com a presença do ex-secretário nacional de atenção à saúde, Helvécio Magalhães.

 

Críticas não foram economizadas ao modelo de gestão adotado pelo governo estadual. Palavras fortes foram usadas pelo ex-secretário para classificar a situação que envolve a região. Magalhães disse que o Centro-Oeste se iguala a regiões mais pobres como o Vale do Jequitinhonha. Disse que Divinópolis é uma das cidades mais dependentes de Belo Horizonte, quando o assunto é saúde.

 

A crise do Hospital São João de Deus não ficou de fora. Em entrevista exclusiva à reportagem, o ex-secretário classificou a situação da unidade como “catastrófica” e responsabilizou o governo municipal e estadual pela má gerência. Disse ainda que quando esteve no município, em novembro passado, faltava informação por parte dos gestores municipais.

 

“Eles nunca tomaram conta do contrato de gestão. É bem verdade que a responsabilidade é da prefeitura como gestora plena. Eu lembro que fiz várias perguntas ao gestor municipal e ele não sabia responder”, afirmou.

 

Magalhães disse ainda que o governo municipal “abandonou a ideia de recuperação e o governo estadual se ausentou”.

 

“É uma situação dramática, as medidas foram paliativas, até com a intervenção do ministério público, na tentativa de reestruturação”, afirmou.

 

O pedido de socorro também foi feito ao governo federal. Questionado sobre qual foi a contribuição da União para minimizar a agonia do São João de Deus, ele voltou a bater na tecla na contratualização e da renegociação junto a Caixa Econômica Federal (CEF).

 

“Colocamos recurso desde que contratualizados. A gestão municipal se quer tinha incentivo da contratualização no contrato do hospital. Tamanha confusão instalada pelo gestor pleno municipal e o governo colocou os recursos desde que na lógica pública e regulamentado pelo município”, afirmou.

 

O debate foi conduzido por representantes da cidade (Foto: Amanda Quintiliano)

O debate foi conduzido por representantes da cidade (Foto: Amanda Quintiliano)

 

O valor e nem a data do repasse foram confirmados. A contratualização significa a revisão nos valores do procedimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A reportagem tentou confirmar se, de fato, a medida foi oficializada, mas não conseguiu contato nem com o hospital e nem com a secretaria municipal de saúde. À imprensa nunca houve a confirmação desde recurso que significaria R$ 1 milhão a mais, todos os meses, no caixa da unidade.

 

Destruição

 

O ex-secretário ainda disse que a crise do São João de Deus, “no sistema municipal, destrói o sistema municipal de saúde”.

 

“Isso aliado ao não investimento, a problemas gravíssimos na atenção básica, sem unidades especializadas, ao longo período de obras não finalizadas do hospital regional, que este atual governo vai deixar como esqueleto”, completou.

 

Ele ainda disse que a saúde no Centro-Oeste regrediu.

 

“Constatamos com base nos dados encontrados, uma situação absolutamente catastrófica. Primeiro, em longo prazo uma regressão da saúde do Oeste de Minas e em particular de Divinópolis. Isso ficou muito claro nas reuniões que fizemos e houve a concordância do então secretário municipal, porque Divinópolis andou para trás”, salientou.

 

Proposta

 

A proposta de governo de Pimentel vem com a regionalização da administração. O modelo já é parecido ao adotado pelo

Helvécio responsabilizou o município, como gestor pleno, por parte da crise do São João de Deus (Foto: Amanda Quintiliano)

Helvécio responsabilizou o município, como gestor pleno, por parte da crise do São João de Deus (Foto: Amanda Quintiliano)

SUS o que impactaria pouco a saúde. Hoje, o estado é dividido em macrorregiões e em microrregiões. “Gestão” foi uma das palavras mais usadas pelo ex-secretário que falou também em mais aporte aos municípios, em conclusões de obras dos nove hospitais públicos e construção de centros especializados.

 

Questionado se o estado teria condições de abraçar sozinho todos os problemas do Estado, sem auxílio do governo federal, ele desconversou. Disse que o Estado não cumpriu o teto mínimo de 10% em investimento em saúde e que chegar a esse índice pode representar um complemento de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões. Afirmou ainda que a União tem feito a parte dela cumprindo o que está previsto em lei e que se houver a alteração, elevando o índice, o repasse também será alterado.

 

Já indagado sobre a proposta para recuperação do São João de Deus ele foi mais radical e falou até em desapropriação.

 

“Acho que vamos ter que discutir um novo modelo, na carne, estruturante, para o hospital, se necessário desapropriar e assumir como hospital público, ou no caso uma intervenção de verdade”, enfatizou.

 

Antes, ele havia dito também que o governo PT apoia iniciativas, “desde que na lógica pública, de reverter a situação do São João de Deus, de problemas que ficaram públicos, de mau uso dos recursos, intervenções, muita confusão gerencial”. Ele ainda chegou a dizer que havia dentro do hospital “um verdadeiro condomínio interno de interesses privados, mas alavancados por recursos públicos”.