A Missa da Família tornou-se palco de uma palestra de mais de uma hora sobre “ideologia de gêneros”. Antes da homilia, o Padre Chrystian Shankar subiu ao altar ao lado da juíza da Vara da Família, Dra. Andrea Barcelos para apresentar, sob embasamentos teóricos e científicos, o significado da expressão que tem gerado polêmica no Plano Municipal de Educação e dividido opiniões em Divinópolis.
Padre Chrystian evitou fazer referências bíblicas e disse que se limitaria a artigos publicados sobre o assunto. A decisão, segundo ele, era para evitar um discurso religioso e dar ênfase a fatos “filosóficos, históricos e científicos”. Ele citou Marx, Simone de Beauvoir – uma das primeiras mulheres a defender a ideologia de gêneros, dentre outros filósofos.
Antes, ele respondeu aos ataques das redes sociais. Desde o anúncio da palestra intitulada “Ideologia de gêneros: um plano para destruir a família” ele disse estar sofrendo ameaças. Inicialmente, contestou que a igreja seja “homofobica” e disse que sempre recebe gays, lésbicas, transexuais. Afirmou também que em nenhum momento instigou a violência.
Padre Chrystian ainda salientou que parte dos ataques são de quem está mais interessado em denegrir a imagem da igreja do que em debater o assunto. Tratou a “ideologia de gêneros” como um “rolo compressor” que acaba, segundo ele, com a igreja, com a família e também como o homossexualismo”. Para ele, não caberia mais, nem mesmo, discutir homofobia e preconceitos.
Baseados em artigos de teóricos, ele voltou a dizer que a “ideologia de gêneros” é uma tentativa de afirmar para todas as pessoas que não existe uma identidade biológica em relação à sexualidade. Quer dizer que o sujeito, quando nasce, não é homem nem mulher. Afirmou que não cabe a escola ensinar isso às crianças e nem implantar banheiros unissex ou trata-las apenas como um pronome.
“Um ser indefinível e indefinido, isso é que fala a ideologia de gêneros […] É como se nasce uma tábua reta”, enfatizou.
Padre Chrystian ainda disse que ser contra a ideologia de gêneros não significa discriminar os homossexuais. Afirmou que a opção sexual de cada um deve ser respeitada, mas que não cabe ao Estado ou escola impor essa situação às crianças. Para ele, essa é uma escolha para adultos.
Quem educa?
Na reta da fala de Padre Chrystian, a juíza da Vara da Família, Dra. Andrea Barcelos deu seguimento à palestra. Na primeira fala, ela foi
aplaudida pelos fiéis. Disse que o dever de educar é dos pais e não da escola ou do Estado. Usando palavras mais fortes afirmou que a “ideologia de gêneros” é mais séria e problemática do que se possa imaginar.
Citou países como a Noruega para exemplificar. Disse que lá, há estudos em andamento descontruindo o que foi aplicado em sala de aula. Contou que o índice de uso de drogas aumentou e que crianças tem se recusado a irem às escolas. Lá não se usa mais “ela ou ela” para definir as crianças em salas de aula e fala-se em formas de relação sexual entre pessoas de sexos diferentes e iguais, como oral e anal.
Dra. Andrea defendeu que cabe aos pais orientarem e educarem os filhos. Disse que em nenhum momento ela, a igreja, ONGs e entidades, como o Grupo de Adoção, pediram o veto de todo o capítulo IX. Eles solicitaram apenas a retirada da expressão “questões de gêneros” e de outros dois itens que fazer referência ao tema.
Segundo ela, “questões, identidade ou ideologia” são a mesma coisa e podem levar a significados diferentes.
“Uma lei para não ser desvirtuada não pode ter nada que possibilite o significado dúbio”, afirmou e acrescentou: “As pessoas que elaboraram podem ser diferentes da que irão aplicar as diretrizes do plano”.
A juíza ainda citou o coordenador do Fórum de Educação, professor José Heleno. Disse que ele admitiu que em nenhum momento houve a discussão do tema nas mais de nove reuniões. Alertou ainda que há pessoas favoráveis dentro do Fórum e do Conselho Municipal de Educação à “ideologia de gêneros” e que a população deve acompanhar a elaboração do novo capítulo que tratará da Diversidade e Educação.
Dr. Andrea também destacou que as entidades, igrejas e ONGs são favoráveis ao capítulo IX que trata também questões de indígenas, pessoas com deficiências, negros e homossexuais. Enfatizou que são contra apenas ao conceito de “ideologia de gêneros” que trata a criança como ser indefinível até que ela escolha como ser tratada, se como menino, menina, gay, transexual.