Depressão, ansiedade e pânico, estas doenças podem ser causadas pelo uso de redes sociais e serem um dos impactos do digital na vida dos usuários. Especialistas recomendam cautela nas relações digitais.
Atenção: está matéria trata de assuntos sensíveis causados pelos impactos do digital como suicídio, automutilação e problemas psicológicos. Assim, caso esteja passando por problemas, recomendamos que vá ao fim do texto e descubra como buscar ajuda. Lembre-se, você não está só.
Na última semana, os Divinopolitanos foram surpreendidos com o falecimento de uma influenciadora e ativista política digital. Após ser internada por intoxicação exógena, Vanessa Bernardes ficou em coma, mas devido a graves danos em seu organismo, não resistiu. Conforme postagem no perfil administrado pela ativista, ela tirou a própria vida após os impactos causados pelo uso internet.
A ativista ficou reconhecida pelas suas postagens polêmicas, assim como por seu posicionamento político em defesa do senador Cletinho Azevedo (Republicanos), do prefeito Gleidson Azevedo (Novo) e também do deputado estadual Eduardo Azevedo.
Além disso, ganhou ainda mais destaque após inquérito da Polícia Civil revelar que o perfil usado por Vanessa havia sido criado e acessado diversas vezes a partir de uma rede de internet vinculada à Prefeitura de Divinópolis.
A polícia à indiciou por calúnia, difamação, violação do sigilo profissional e perseguição contra a deputada estadual Lohanna França (PV) e outros cinco vereadores. Os parlamentar não tiveram os nomes divulgados.
Depois do indiciamento, em 11 de março, Vanessa deixou em suas redes sociais algumas mensagens com acusações, rementendo ao impacto do digital em sua vida. No mesmo dia, houve a internação de Vanessa. Ela ficou em coma até o dia 15 de março, data do seu falecimento em Santo Antônio do Amparo/MG.
Especialistas
Com a postagem, o perfil deixa claro que Vanessa, além de estar envolvida nas mídias sociais, tornou-se vítima da ferramenta que utilizava para trabalho.
O cenário deixou muito dos seguidores em estado de alerta. Além disso, o tema também virou debate entre especialistas que reforçam a necessidade do monitoramento e identificação dos impactos do uso das redes sociais no dia a dia.
De acordo com a psicologa especialista em saúde coletiva e saúde mental, Cristiane Nogueira, a internet possui diverso impactos na vida dos usuários. Por isso, ela afirma que é necessário que haja uma educação sobre a internet. “É preciso informações sobre o uso mais saudável da internet”, destaca a psicologa.
Para Marcela Basílio, psicologa especializada em psicologia social e em Terapia Cognitivo-comportamental, “a internet afeta a saúde mental das pessoas a partir do momento em que o sujeito, a pessoa, o usuário, o consumidor, começa a validar tudo que é colocado ali. Pois, há sempre à espera de ser reconhecido, está sempre à espera de ser acolhido por pessoas estranhas por sujeitos estranhos”.
Isso, conforme a psicóloga, pode resultar nos sintomas mais mais comuns, como ansiedade.
“Para fazer um uso consciente das redes sociais, tem que se avaliar o quanto aquilo está afetando a sua vida, quanto está afetando seu dia a dia, o quanto está afetando seu comportamento”.
Marcela Basílio – Psicologa
Para ambas as especialistas, é preciso avaliar o impacto do uso e do tempo de tela. Isso, devido à necessidade de compreender os sentimentos despertados em relação ao postado, comentado e compreendido.
Cristiane pontua que é preciso ter um limite, uma proteção para crianças e adolescentes. Além disso, reforça que desenvolver habilidades socioemocionais é algo que pode ajudar adultos na luta contra o impacto do digital no dia a dia.
Já Marcela, destaca a necessidade de desenvolver o autocontrole no uso das redes sociais.
“Primeiramente estabelecendo os horários, estabelecendo o consumo. Não permitir que isso se torne algo tão primordial na vida a ponto de deixar os afazeres, de deixar as suas prioridades em prol de ficar vendo o que outras pessoas fazem, postam no dia a dia”.
Caso Noticia e Babados
Questionadas sobre o caso de Vanessa Bernardes as psicologas destacam que pode sim ter existido um impacto da internet para o desfecho. Entretanto, ressaltam que o autoextermínio é uma questão multifatorial, assim, há outros fatores que podem corroborar para o acontecimento.
Cristiane destaca que é necessário “evitar especulações” sobre o tema. Marcela pontua que os impactos das falas podem ter gerado efeitos colaterais. Porém, deve ter cuidado ao abordar o tema, pois, há outros fatores que precisam de análise.
Impactos do Digital no dia a dia
Em 2021, Lucas Silva tinha apenas 16 anos quando tirou a sua própria vida. O adolescente era filho da cantora de forró e ex-vocalista da banda Magníficos, Walkyria Santos. Ele atentou contra a própria vida após comentários LGBTfóbicos na rede Tik Tok. O vídeo que motivou os diversos comentários homofóbicos era como uma ‘trend’ – tipo de conteúdo que está em alta no momento. Nele, ele e um amigo brincavam e simulavam que iriam se beijar enquanto conversavam. Contudo, o beijo nunca ocorreu no vídeo.
“Hoje, eu perdi meu filho, uma dor que só quem sente vai entender. Ele postou um vídeo no TikTok, uma brincadeira de adolescente com os amigos, e achou que as pessoas iriam achar engraçado. Mas as pessoas não acharam. Como sempre, as pessoas destilando ódio na internet. Como sempre, as pessoas deixando comentários maldosos. Meu filho acabou tirando a vida. Eu estou desolada, eu estou acabada, eu estou sem chão”, disse Walkyria na terça-feira (03/08/2021).
O caso de Jessica Canedo, a jovem de 22 anos, também ganhou destaque nacional. Ela tornou-se vítima de ataques de ódio nas redes sociais após uma postagem realizada pelo perfil no instagram conhecido como “Choquei”.
Conforme o perfil, a jovem teria um romance com o comediante e influenciador Whindersson Nunes. Após essa afirmação, Jéssica virou alvo de inúmeros comentários negativos que resultaram no suícidio da garota em 22 de dezembro de 2023.
Toda a história começou a partir de boatos com falsos prints. Eles simulavam uma conversa entre o influenciador e a jovem, com conteúdo replicado em diversos perfis na internet. Com todo o boato, Whindersson e Jéssica negaram a relação, porém, mesmo assim, as postagens seguiram online, sendo retiradas após a morte da jovem.
Lei de regulação das redes sociais
Além dos impactos na saúde mental, o uso da rede social como ferramenta para espalhar falsas informações ou gerar ataques virou pauta no cenário político brasileiro. Em seu ensaio “Fake News Definem uma Eleição”, publicado no livro “Pós-verdade e Fake News – Uma reflexão sobre a guerra das narrativas”, o doutor em direito e jornalista, Francisco Brito Cruz, ressalta o desafio que a manipulação das redes sociais trazem para o cenário eleitoral.
“Talvez um desses desafios mais latentes derive da ideia que é possível manipular a vontade popular. E, assim, a democracia representativa – a partir da disseminação de notícias falsas”, diz trecho do ensaio.
A regulação da internet é pauta antiga, um exemplo é a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2024. Conhecida como o Marco Civil da Internet, ela completará 10 anos no próximo mês. Ela “estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil’.
PL das Fake News
Apesar da existência do Marco, segue em tramitação o Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como o PL das Fake News. Ele tem como objetivo “estabelecer e normas relativas à transparência de redes sociais e de serviços de mensagens privadas. Sobretudo no tocante à responsabilidade dos provedores pelo combate à desinformação e pelo aumento da transparência na internet, à transparência em relação a conteúdos patrocinados e à atuação do poder público, bem como estabelece sanções para o descumprimento da lei.”, diz ementa.
A regulamentação das redes sociais e as leis para o controle da internet não visa a limitação da liberdade de expressão, destacou o ministro do STF, Alexandre de Moraes, ao defender, então, a pauta durante sua participação da aula de recepção aos calouros da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
“Não podemos cair nesse discurso fácil de que regulamentar as redes sociais é ser contra a liberdade de expressão. Isso é um discurso mentiroso e que pretende propagar e continuar propagando discurso de ódio. O que não pode no mundo real, não pode no mundo virtual”, afirmou.
De acordo com a especialista em psicologia social, mesmo correndo um risco de chegar a um nível de censura, há sim uma possibilidade para a regulação.
“Correndo risco de bater no dinte de uma censura, ainda assim penso que algumas coisas, principalmente, no conteúdo que é voltado para pessoas mais jovens, deva receber algum tipo de regulamentação. Isto é, para evitarmos que isso venha em proporções, principalmente quando a gente fala de violência, quando a gente fala de excessos, a gente fala de drogas tem que ter uma regulamentação”, pontua.
Dados sobre o uso de internet
Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Internet estava em 91,5% dos domicílios em 2022. Isso representa alta de 1,5 ponto percentual (p.p.) frente a 2021, quando 90,0% dos domicílios tinham acesso à rede.
Além disso, o instituto ressalta que nos domicílios rurais o uso da internet também aumentou de 2021 para 2022, indo de 74,7% para 78,1%. Já na área urbana, o crescimento saltou de 92,3% para 93,5%. Assim, como consequência, a diferença entre as proporções de domicílios rurais e urbanos com internet era de 40 p.p. em 2016, caindo para 15,4 p.p. em 2022.
Redes sociais
Conforme os dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022, pesquisa que coleta indicadores que caracterizam o acesso e o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) por indivíduos de 9 a 17 anos no país, em 24,4 milhões de crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos era usuária de Internet no país. O número representa 92% do universo populacional, destes 86% possuem perfis em redes sociais, um recorte de aproximadamente 21 milhões de pessoas.
A pesquisa apresenta que o WhatsApp reúne 78% desses usuários, o Instagram 64% e o TikTok 60%. Já o Facebook possui 47% de consumidores crianças e adolescentes. Sendo que o Tik Tok é a rede social mais famosa entre os usuários de 9 a 12 anos. O Instagram é o mais famoso entre os usuários de 13 a 17 anos.
Um ponto que também mecere destaque é em relação às situações incômodas online. Isto é, 19% dos usuários reportaram que sempre ou quase sempre ficam chateados, ou incomodados com coisas que acontecem na Internet. Sendo assim, as proporções se apresentaram maiores para indivíduos de 9 a 10 anos (20%) e de 15 a 17 anos (22%), comparados aos usuários de 11 a 12 anos (14%) e de 13 a 14 anos (18%). Assim, acendendo o sinal de alerta no consumo de redes online.
Pesquisa realizada pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet) e conduzida pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) e do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR).
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Nestes canais, ocorrem mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 3.500 voluntários, presentes em 20 estados, além do Distrito Federal.
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