Projeto alterou o número de andares de edificação: “para vocês fazerem 600 andares”; Empresário investigado adotou rotatória da rua Goiás: “os canteiros da Goiás”
Projeto de lei (048/21) aprovado em 2021 e um pronunciamento do vereador Rodrigo Kaboja (PSD) podem ajudar a contextualizar os áudios do prefeito de Divinópolis Gleidson Azevedo (Novo). Eles mostram suposto envolvimento do irmão do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) em negociata com empresário.
O empresário é investigado por esquema de corrupção na operação Gola Alva, a partir de denúncia feita pelo próprio Gleidson.
A proposta, apresentada pelos vereadores Rodrigo Kaboja (PSD) e Eduardo Print Jr (PSDB), alterou a altura máxima das edificações nas áreas classificadas como zonas comerciais 2.
Embora aprovada pelos vereadores, o prefeito vetou a lei que passava de seis pavimentos para oito mais a garagem. Na época, alegou inconstitucionalidade.
Contudo, em um dos áudios, Gleidson menciona, de forma exagerada, “projetos para fazerem 600 andares”. Embora não mencione especificamente a matéria 048/21, ele fala em “agilizar a questão dos projetos”.
“Querido, vocês me largaram mesmo. Estou aqui agarrado para poder agilizar a questão dos projetos lá para vocês fazerem 600 andares aí, vocês não me ajudam. Já pode ir lá nas ruas lá para começar a calçar? E o negócio lá da Goiás, os canteiros lá da Goiás, vai dar certo? Você tem que me ajudar meu filho”, diz o prefeito em um dos áudios.
Em resumo, os vereadores protocolaram o projeto no dia 3 de março de 2021. Logo depois, no dia quatro de maio, eles o aprovaram. Em seguida, no dia 7 de maio o prefeito vetou. Desta forma, no dia 18 do mesmo mês, os parlamentares derrubaram o veto. Com isso, no dia 25 de maio o presidente a promulgou, como previsto pela legislação.
Nem veto
Com o passar das aprovações de outros projetos de zoneamento, Gleidson parou até mesmo de vetar, deixando que o tempo previsto em lei se esgotasse. Desta forma, forçando a promulgação por parte do presidente da câmara.
Contudo, alegava que, independente do veto dele, os vereadores o derrubariam e, com isso, a lei seria promulgada.
Pronunciamento de Kaboja e áudios do prefeito
Entre o veto e a promulgação da lei, no dia 11 de maio, o pronunciamento de Kaboja evidencia outra possível relação dos áudios do prefeito com suposto envolvimento na negociata.
Kaboja anunciou as obras do canteiro do final da Rua Goiás, na rotatória de acesso ao bairro São Roque. As obras ficaram a cargo de uma rede de postos de combustíveis.
Kaboja fala do “estímulo pessoal” do prefeito para parcerias com empresários.
“Nunca na história de Divinópolis, o volume tão grande de empresários se juntou para investir parte dos seus recursos em melhorias de vias públicas e praças. Isso se deve, principalmente, ao grande estímulo e pedido de contribuição do prefeito Gleidson Azevedo. Que se empenha pessoalmente a estimular esse tipo de parceria”, afirmou.
Falando que esteve na rotatória do bairro São Roque, anunciou a reforma por meio do Adote um Bem Público e cita o nome de Nicácio. Ele é o empresário citado por Gleidson nos áudios e investigado por pagamento de propina para alteração de zoneamento.
“Esteve na rotatória que dá acesso ao bairro São Roque e que é caminho dos moradores de Santo Antônio dos Campos para acompanhar o início de uma grande obra. Que conta com o apoio da empresa Zap Auto Posto”, disse.
Citando Nicácio e outros dois empresários, afirmou que eles “estão investindo recurso considerável na reforma daquela rotatória através da lei municipal adote uma praça”.
Assessoria de governo nega
“Esses áudios são parte de uma investigação sigilosa sobre vereadores que estariam recebendo propina para aprovação de projetos na câmara de Divinópolis”, afirmou o assessor de governo Fernando Henrique. Disse também que o prefeito não esta entre os investigados.
“Quem vazou esses áudios, provavelmente, será responsabilizado pelo Gaeco. A gente imagina o motivo de ter pegado esses áudios, trata-se de desespero de quem está vendo que o cerco está se fechando, já que a investigação está chegando ao final e providências serão tomadas”, completou.
Em seguida disse: “E, quem pode escutar os áudios até o final vê que o prefeito pede ajuda, colaboração para fazer coisas para a cidade e não propina, como algumas pessoas estão sendo investigadas. Eles falam em corrupção quando o prefeito pede calçamento para a cidade, enquanto as pessoas estão sendo investigadas por pedir propina para o bolso para aprovar projetos para se beneficiar.”.
Além disso, alegou que os áudios tem relação com o Adote um Bem Público.
“Não é novidade para ninguém que o prefeito sempre pediu para os empresários colaborarem. O programa adote um bem público estava completamente esquecido, parado, e nessa gestão, aproximadamente 200 empresários toparam ajudar a cidade com várias coisas, estrutura, reforma de praça, posto de saúde.”