Rodrigo Dias

Olhou em cima da cama e estavam as três lá. Hermeticamente fechadas. Somadas deveriam pesar mais de 50 quilos, que seriam empurrados ou carregados daqui para ali. Entre o aeroporto e o hotel.

A viagem nem iria ser longa, mas achou seguro levar tudo aquilo. Apesar de julgar necessário, ter a ideia de carregar todo aquele peso o desanimava. Quem viaja sabe que não há nada pior do que rito de desfazer e montar malas. Separar espaço para um tudo. Fora o risco de ter a bagagem extraviada e aí ser obrigado a adquirir tudo de novo.

Faltavam algumas horas para o voo. Havia preparado as malas de véspera. Sem ter muito que fazer, ficou ali no quarto olhando para elas. Aquele ambiente se transformara num templo, e os três objetos imóveis sobre a cama, em relicários. Via as malas e pedia forças ao além para suportar mais uma viagem com todo aquele peso e desconforto a sua volta.

Num pensamento perdido, desviou o olhar. Ali, escondida atrás do guarda-roupa, havia uma velha mochila. Era do tempo da faculdade, de uma época em que não era tão rígido consigo mesmo e aventurava mais. A mochila, de tecido grosso e forte, estava desbotada, mas ainda era resistente. Nela havia bottons e letras de músicas escritas à caneta. Aquelas coisas indicavam uma juventude vivida e lhe fazia bem, refrigerando a alma.

Num rompante, uma espécie de epifania, decidiu romper com a sua bagagem já pronta. Afinal, eram poucos dias de viagem e dava para se arranjar com a velha mochila. Esta ideia o confortava e trazia certa satisfação esquecida no passado.

Como não havia muito espaço dentro dela resolveu priorizar suas necessidades. Não levou muita coisa. Os ternos ficaram para trás. Preferiu levar duas mudas de camisa social. Das três gravatas separadas decidiu levar uma apenas, a mais colorida por sinal.  Levou só a calça que vestia e duas peças íntimas. Decidiu se arranjar só com aquilo mesmo.

Como o hotel em que ficaria para reunião dava para o mar, achou por bem levar uma roupa de banho. Trocou um dos pares de sapato que levaria por chinelos de dedo e conseguiu mais espaço na mochila.

Colocou nela seu computador, mas não se esqueceu de levar, também, uma velha máquina fotográfica de filmes. Ele se lembrou que adorava tirar e revelar suas próprias fotos. Via no ato um quê de magia. Alquimia pura.

Malas desfeitas e mochila pronta. Levaria agora, nas costas, pouco mais de dez quilos. Conseguiria andar com desenvoltura. Nada o pesava e tampouco o prendia. Tinha a cabeça leve.

A viagem que fez naqueles minutos de preparo da mochila lhe valerá a semana. O experimentou e o preparou para o que viria a seguir.

Aquela foi mais do que uma viagem de trabalho. Fez com que ressuscitasse para si.