Poliany Mota
“Eu trabalhava em lavanderia, larguei tudo para ficar com ele. Tem 26 anos que eu não sei o que é trabalhar. Mas, eu só agradeço a Deus por ter me dado ele, porque me dá paz e calma, antes eu era estressada com tudo”, contou Cleonice Pereira da Silva, de 50 anos, mãe de Luiz Henrique Pereira da Silva, portador de necessidades especiais.
Cleonice faz parte do grupo de mães que não medem esforços para fazer os filhos felizes e mudam completamente suas vidas para que eles possam aproveitar todas as oportunidades de viverem melhor. Mãe de três filhos, aos 24 anos ele teve seu caçula, o Luiz, que com apenas nove meses de vida sofreu uma paralisia cerebral por causa de uma meningite e desde então não anda, fala ou escuta.
“Algumas pessoas falaram que eu tinha que internar ele, diziam que eu estava ficando doida de largar tudo para cuidar do Luiz e eu dizia: no dia que eu fizer isso pode me internar também, porque ai sim eu devo ter ficado doida”, comentou.
Assim como ela, Gilvânia Luzia de Rezende, de 45 anos, também foi questionada e chamada de louca por algumas pessoas quando largou toda uma vida estruturada no pequeno município de São Tiago para vir morar em Divinópolis, em 2002, a procura de um tratamento para seu filho mais velho, Fabrício Antônio Rezende, na época com 12 anos.
“Meu filho tinha um problema, nós não sabíamos exatamente o que era e na minha cidade não havia recurso para descobrir. Isso me incomodava muito. O Fabrício tinha dificuldade na escola e era rejeitado pelos colegas. Então, eu decidi vir para cá e ficar uns seis meses para descobrir qual era o problema dele”.
Dona de sua própria fábrica de biscoitos, com dez funcionários e casada com um funcionário público, as pessoas não
entendiam como ela teria coragem de largar tudo e começar uma nova vida do zero, em uma cidade maior, sem sequer o apoio de algum parente.
“A maioria das pessoas me falava para desistir dele. Inclusive uma psicóloga daqui, que ia muito a São Tiago disse: você está louca de sair daqui e ir para Divinópolis, onde não conhece ninguém. Ele não vai dar conta de estudar, deixa seu menino aqui na APAE e pronto. Eu respondi a ela que não estava indo atrás de diploma, mas da independência do meu filho, para que ele fosse feliz, porque não sabia nem olhar as horas ou contar dinheiro. Eu vim com a cara e a coragem”, contou.
O que era para ser temporário se tornou permanente. Quando consultou especialistas, Gilvânia descobriu que seu primogênito estava com um atraso na mentalidade de cinco anos e que para melhorar teria que fazer uma série de tratamentos aqui.
“Para garantir que o Fabrício ficasse bom eu permaneci aqui e isso me custou muito caro, porque tive que me virar com duas crianças, minha menina tinha apenas cinco anos. Até então meu marido não havia conseguido transferência, só um ano depois que veio para Divinópolis. Tudo que o médico mandou fazer eu fiz, até um cachorro arrumei para ele. Como tinha que pagar aluguel e também as terapias, voltei a fabricar biscoitos, vendia na porta das escolas e para os vizinhos. Meu marido vinha de quinze em quinze dias”.
Doze anos após a mudança ela se diz realizada, pois, embora tenha deixado seus sonhos de lado em prol do filho, vê-lo independente e vivendo como qualquer outra pessoa compensa todo o esforço e sofrimento do passado.
“Hoje quando eu olho para o Fabrício assim me emociono. Ele faz curso no Senac [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial ], sabe tudo de computação e tem namorada. O que eu queria eu consegui. Se eu tivesse ficado lá, hoje meu filho seria uma pessoa deficiente, sem perspectiva nenhuma de vida”.
Mãe exemplo
Em 2011 Gilvânia, que só tinha a 4ª série, voltou a estudar. Através do programa EJA (Educação de Jovens e Adultos), em apenas três anos ela concluiu o ensino fundamental e médio. Como sempre trabalhou com alimentos, o sonho dela era cursar a faculdade de engenharia de alimentos, porém, por causa da proibição dos pais na adolescência e a dedicação ao filho não pôde realizá-lo.
Apesar de Divinópolis não ter o curso, no final de 2013 ela prestou vestibular para engenharia de produção e passou. Em fevereiro deste ano ela finalmente começou a realizar seu desejo. A garra e dedicação da mãe fizeram com que seu filho, que tinha abandonado a escola na 5º série, retomasse os estudos. Assim como ela, hoje o Fabrício frequenta as aulas do EJA e pretende se formar em breve.
“Depois que eu acabei meus estudos, até meu marido concluiu o ensino médio pelo EJA. Fiquei muito feliz quando meu filho disse que ia voltar a estudar. Não espero que meus filhos tenham um diploma de curso superior, mas que tenham conhecimento. Acho que educação é tudo”, concluiu.