Por Rodrigo Dias
O sentido está ali: solto numa frase, entre as reticências. Nas reminiscências de um querer. O sentido ocupa o vago. O abstrato dos atos na falta e na sobra de afagos.
Vida é texto. Nós, contexto. É tudo muito maior do que uma simples frase de efeito. O pretenso sentido requer conexões, razões e ilusões para ser solvido. Se vê com os olhos, mas se lê com a alma.
Entender o sentido, por vezes é melhor do que sentir. Tudo nos rodeia, o bom e o ruim. Cabe entender cada contexto e absorver o melhor, mas dentro da complexidade humana o melhor é relativo.
Então, o sentido é interpretação. E toda interpretação depende da nossa bagagem e vontades. O homem é conjugação, de todos os tempos e modos. Imperativo ser.
No universo das coisas, tudo se move. Inclusive nossa vontade. Existir é sentir. O efeito da ordem de tudo que criamos ou que herdamos. O “sentir” racional deixa o homem mais prático, ágil.
Mas é a sensibilidade que nos conecta com o mundo das coisas invisíveis. Das inspiradoras, as que estão em outro plano prontas para “ser”. Sentir é, também, acreditar no impossível. Acreditar nesta força que move tudo.
A sensibilidade faz bem ao homem. O torna mais epiderme, mais apto a conexões menos duras nesta vida. Não se trata de ser frágil, mas de sentir a essência das coisas. As boas e as ruins.
Neste contexto, o mundo carece de sentido. Do que está aqui e ali.
A nossa intemperança nos entorpece e endurece. Enxerga-se, mas não se vê. Ouve-se, mas não se escuta. Fala-se, mas não se diz.
Um sentir mecanizado, metalizado… Frio.
O sentir protocolar, estabelecido por convenção e por pura conveniência, não é o sentido.
Sentir é querer o calor do sentido. Vê-lo nas grandes e, especialmente, nas pequenas coisas que nos cercam.
É cerrar os olhos e mesmo na escuridão do íntimo, ver brotar a cor.
Acreditar no que tem valor.