Rodrigo Dias

Quem lida com o exercício da expressão anda apreensivo. Nos últimos dias, tem sido arriscado dar opinião. Tem muita gente entendendo como ofensa o que é só uma posição pessoal sobre determinado assunto.

Concordo que há muita besteira sendo escrita e dita por aí. Mas há, também, muita gente entendendo errado e, pior que isto, disseminando o errado que entende pelas redes sociais da vida. Até ele, o errado, virar uma verdade entre os seus iguais.

Ninguém é obrigado a concordar com a minha ou com a sua opinião, mas respeitá-la é o mínimo exigido. Em minha opinião, vou me arriscar, o Zeca Camargo, por exemplo, não disse nada demais quando fez sua crônica em torno do sensacionalismo e cobertura espetaculosa que a mídia fez sobre o cantor sertanejo morto recentemente em acidente de carro. Apenas destacou um fato, mas a comoção gerada em torno dessa morte deixou os fãs sensíveis e logo não faltou pedrada para o Zeca, que apenas se posicionou.

Nesta de se expressar sobrou até para o Dunga, que usou uma metáfora envolvendo afrodescendentes que causou arrepios. Disse ele: “eu até acho que sou afrodescendente, de tanto que apanhei e gosto de apanhar”. É bem verdade que os negros apanharam e apanham muito ainda, mas gostar de apanhar já é outra história. Mas há de se observar que o Dunga disse a frase pela sua ótica e entende que negros gostam de apanhar. Quem garante que a visão dele não é a visão de tantos outros? Logo, o pedido de desculpas que se seguiu após a frase infeliz é apenas um curativo que tampa a ferida e não combate, efetivamente, o mal ou a dor que originou esse tipo de entendimento do técnico da seleção brasileira. Esta é minha opinião.

Para dar mais um pitaco, percebo que tem gente apostando que a Marieta Severo, atriz, vai ficar na geladeira por ter emitido opinião contrária ao que a firma onde trabalha determina. Respondeu ela ao Faustão em seu programa: “Não, eu sou sempre otimista. Não acho que nós sejamos o país da desesperança, não. Acho que o país caminhou muito nos últimos anos. (…) Pra mim, tem uma coisa muito importante: a inclusão social, a luta contra a desigualdade. (…) A gente teve muito isso nos últimos anos. Estamos numa crise, mas vamos sair dela”.

Marieta não disse nada demais, deu sua opinião que, por acaso, vai na linha do que defende o atual governo federal. Desconstruindo tantos argumentos que alardeiam por aí que a única herança que ficará é a roubalheira. Marieta opinou, não agradou e corre o risco de ser hostilizada, como o Jô. Simplesmente por pensar diferente.

Tem pessoas que têm compulsividade em sempre opinar. Por vezes o ato é mecânico e não passa por filtros como o do bom senso e da relevância do que é dito ou escrito.

Opiniões falam muito de nós. Do quanto somos profundos ou rasos. Isto vale tanto para dá-la ou recebê-la. Nem toda opinião é necessariamente ofensa. E tampouco o que se ouve é totalmente verdade.

Seja para emitir ou receber as opiniões é necessário o exercício da reflexão. Um cuidado básico que ensina quem já aprendeu a dar opiniões e a conviver com o contrário delas.

Rodrigo Dias

artigorodrigodias@gmail.com