Amanda Quintiliano

 

O promotor disse que o foco é na causa maior da crime, a má gestão (Foto: Amanda Quintiliano)

O promotor disse que o foco é na causa maior da crime, a má gestão (Foto: Amanda Quintiliano)

A segunda auditoria contratada pela Fundação Geraldo Corrêa sob a recomendação do Ministério Público, já está nas mãos do promotor Sérgio Gildin. O relatório da PricewaterhouseCoopers – empresa contratada em Madri – veio em espanhol, mas já deu para averiguar os principais motivos que desencadeou a pior crise dos últimos 40 anos da instituição. A má gestão foi o item predominante, seguido de irregularidades.

 

Gildin disse que o documento foi repassado a uma empresa especializada para tradução e só após tê-lo em mãos é que poderá repassar mais detalhes sobre as apurações. Inicialmente, exemplificando em índices, ele disse que 97% da crise foi gerada por “administração equivocada” e os 3% recentes, segundo ele, apresentam vestígios de irregularidades.

 

“O que identificamos nesta auditoria, inicialmente, não é conclusivo, que isso [irregularidades] representa muito pouco perto do endividamento total do hospital. O endividamento do hospital não se deriva de ilícitos, mas de má gestão, de algumas condutas administrativas que estão sendo corrigidas”, afirmou, citando como exemplo a construção do “novo hospital”.

 

Diante de um resultado de “má gestão”, o promotor disse que as medidas para correções estão sendo tomadas pela Dictum – empresa interventora – com procedimentos administrativos internos, como revisão de contratos. Sem citar nomes ou comprometer qualquer pessoa, ele também afirmou que serão tomadas as medidas judiciais e extrajudiciais contra as práticas ilícitas.

 

“Com relação a desvio, a prática de atos ilícitos, ai sim cabem medidas judiciais e extrajudiciais para recompor o patrimônio, objeto do desvio, bem como processo para punição das pessoas envolvidas que cometeram esses péssimos serviços ao hospital”, salientou.

 

O relatório traduzido deve ser entregue nos próximos meses ao promotor. Enquanto isso, Gildin tem acompanhado de perto os trabalhos da interventora junto com o Ministério Público Federal (MPF). Por envolver verbas federais, como repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) o órgão também instaurou um inquérito para averiguar as possíveis irregularidades. A dívida atual está em R$ 113 milhões.

 

Confiança

 

O promotor também aproveitou para tranquilizar a população. Disse que a Dictum é de total confiança e apresenta relatórios mensais à promotoria, além de se encontrarem em reuniões semanais. Afirmou ainda que a interventora tem apresentado resultados, como a redução do déficit mensal em cerca de 60%. Até o ano passado o valor chegava a R$ 2,5 milhões e hoje está em R$ 1,2 milhão.

 

“A Dictum assumiu uma situação desastrosa, perto de fechar as portas, quem disse isso foi o próprio administrador anterior [Euler], que disse também que não suportaria o hospital aberto por mais um mês, aliado ao superendividamento, cheio de problemas e vícios que ainda existem”, pontuou e completou: temos a expectativa da revisão total até o fim do contrato de dois anos.

 

O promotor ainda criticou os constantes boatos que surgem e também interferências de quem, segundo ele, “quer ditar as regras”.

 

“Todos os dias temos que enfrentar boatos, desavisos, muita gente agourando na condição de que querem ditar as regras dentro do hospital. O hospital não é mais assim, o hospital tem uma direção que é a Dictum, que combate dia após dia, além dos processos internos, dessas questões todas, os maus costumes que ali se instalaram”, disparou.

 

Repasses

 

Sobre os constantes questionamentos de recursos repassados ao hospital como aporte do governo estadual e federal, Gildin disse que são referentes a pagamentos dos procedimentos realizados.

 

“O hospital é uma instituição privada, mas que recebe recursos públicos em razão dos serviços para o contratante que é o setor público. Ele remunera o hospital naquilo que ele produz. Não existe nenhum convênio a fundo perdido. O que há são programas em que o hospital faz a produção e recebe, se não recebesse do Estado receberia do particular. Essa é outra visão equivocada”, esclareceu.

 

“A população pode ficar tranquila que a gestão é séria e supercontrolada pelo Ministério Público”, concluiu.