Fechamento de loja (Foto: CDL/Divulgação)

Ano que termina foi salvo pelos setores de alimentação e indústria; líderes da Acid, CDL e Fiemg lançam perspectivas

Ricardo Welbert

Se 2020 forçou o mundo a rever modos de produção e consumo há muito estabelecidos, o que esperar de 2021? Ao mesmo tempo em que o ano que está prestes a começar traz a esperança da vacinação em massa contra a covid-19, terá também a insegurança gerada pela identificação de uma nova cepa do coronavírus, mais transmissível que a primeira. Apesar da crise que fechou muitas empresas, setores como o da alimentação e da indústria da transformação acumulam resultados positivos.

No Centro-Oeste de Minas, os empregos gerados por esses dois setores fizeram com que o total de novas contrações entre janeiro e outubro fosse maior do que no mesmo período de 2019. Em Divinópolis, dados da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg) com base em registros do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que de janeiro a novembro de 2020 o número de empresas criadas foi maior que o de negócios extintos: 668 contra 629.

As reduções foram maiores em abril e maio. Os meses seguintes foram de recuperação, com outubro e novembro superando o número de novas empresas abertas no mesmo período do ano anterior. O poder de compra estimula a geração de empregos e sinaliza a possibilidade de que o novo ano seja melhor.  

(Fonte: Caged)

Para traçar conjunturas sobre o futuro da economia local neste peculiar contexto global que também marcará 2021, o PORTAL GERAIS entrevistou representantes de três instituições: Associação Comercial, Industrial, Pecuária e Serviços de Divinópolis (Acid), Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Presidente da Acid, a empresária Alexandra Galvão acredita que o maior desafio será a recomposição das vagas de emprego que foram extintas.

“Nós temos o desafio de retomar o ânimo. Para nossa sorte, o brasileiro tem a cultura do empreendedorismo, que nos leva a investir no próprio negócio seja pela criatividade ou pela garantia da própria sobrevivência. Quem se arriscou em abrir o próprio negócio em 2020 ou que se arriscará a fazer isso em 2021 sempre será visto com bons olhos, pois melhoram o ambiente de negócios”, ressalta.

Alexandra Galvão vê ‘retomada de ânimo’ como principal desafio (Foto: Divulgação)

Abrir ou manter o próprio negócio, porém, não é fácil no Brasil. As altas taxas e tributos municipais, estaduais e federais são a primeira barreira. Depois, a obtenção de alvarás e outros documentos obrigatórios, que já é historicamente lenta, fica ainda mais difícil com as limitações impostas pela pandemia.

“Precisamos, de forma urgente, diminuir a complexidade do nosso sistema tributário, que além de lento é muito pesado”.

Outro desafio para 2021, diz Alexandra, é a interrupção do processo de sucateamento do Centro Industrial.

“Principalmente na entrada, que tem problemas antigos. Com relação ao trânsito, por exemplo, é preciso melhorar o fluxo de veículos, para garantir melhor fluidez da produção. Além disso, a matriz energética precisa ser reforçada. Com tudo isso pronto, seremos capazes de expandir os empreendimentos já existentes e atrair novos investidores”, explica.

Lojistas

Presidente da CDL e anunciado como secretário de desenvolvimento econômico de Divinópolis, o empresário Luiz Angelo Coutinho Gonçalves avalia que os resultados do comércio estão em trajetória crescente. Reflexo dos resultados positivos obtidos por alguns segmentos ao longo do segundo semestre.

“O ano que termina foi completamente atípico. Começamos projetando crescimento de 2% a 2,5% com relação a 2019 e vamos fechar com queda expressiva no PIB [Produto Interno Bruto], de uns 4%”, avalia. 

Luiz Angelo Gonçalves lembra que 2020 começou com expectativa de crescimento e fecha com PIB retraído (Foto: Divulgação)

Embora a pandemia tenha imposto muita dificuldade a todos os segmentos do comércio, também gerou oportunidades para quem trabalha, por exemplo, com decorações de interiores e entregas.

“Este foi, disparado, o melhor ano dos supermercados. Por causa disso nós estamos otimistas com relação a 2021”, avalia.

O começo de 2021 será marcado pela segunda onda da pandemia no país. Na perspectiva de Ângelo, será importante observar como ficará o consumo neste novo cenário.

“Vamos ver agora como as pessoas vão reagir à segunda onda. A expectativa é de que a resposta seja boa, com as pessoas se prevenindo do vírus e sem deixarem de consumir”.

“Qualquer expectativa que possamos ter com relação ao futuro dependerá muito da estabilidade. No geral, pelo que tudo indica, teremos em 2021 um desempenho mais fraco com relação ao atual. Com a Onda Amarela da pandemia em Minas, os empreendedores já tendem a não expandir seus negócios e nem a abrir novos. Também deixam de contratar por causa desse risco”, avalia.

Indústrias

Assim como o setor alimentício, a indústria de transformação (aquela que transforma um material primário em um produto final ou em um intermediário destinado a outra indústria de transformação), um dos principais pilares da economia de Divinópolis, fecha 2020 com saldo positivo no faturamento.

O presidente regional da Fiemg, Eduardo Augusto Nunes Soares, que é também presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Centro-Oeste de Minas (Sinduscon-CO), ressalta que a pandemia afetou as produções apenas no momento em que os trabalhadores precisavam ficar em casa, mas os estoques conseguiram manter o mercado. Quando os profissionais puderam regressar às siderúrgicas, por exemplo, houve lucros por causa da exportação.

Eduardo Soares destaca efeito positivo da crise em segmentos específicos (Foto: Divulgação)

“A alta do dólar favoreceu quem negocia na moeda norte-americana. Está todo mundo lucrando mais do que antes. Principalmente o produtor de ferro-gusa”, avalia.

Para 2021, o representante da indústria regional espera que o contexto pandêmico não piore a ponto de derrubar as produções, as vendas e, consequentemente, os empregos.

“Antes de pensar no futuro, é importante pensarmos na nossa situação atual, porque ela está segurando as coisas. Temos uma série de burocracias e dificuldades relacionadas a meio ambiente e alvarás. As entidades representativas e as empresas precisam se unir ao governo para, juntos, buscarem soluções para a sociedade. É o melhor que podemos desejar”, finaliza.

Indústria da transformação produz itens como o ferro-gusa (Foto: CSN/Divulgação)