Rodrigo Dias

Quando a gente era pequeno, tinha essa mania boba de amarrar um lençol ou toalha em volta do pescoço. Como se fosse mágica, aquela capa misteriosa nos dava superpoderes. Voávamos, soltávamos raio laser pelos olhos e o corpo ficava indestrutível. Ser super-herói era uma coisa boa.

À medida que se cresce, admiramos outros heróis. A maioria fabricada pela indústria dos quadrinhos e dos desenhos animados. Aqueles homens e mulheres da infância eram seres acima do bem e do mal. Por isso eram super.

Era tanta admiração que a gente queria mesmo era ser herói. Por quê? Simples, eram sempre mocinhos e estavam do lado do “bem”. Naquela época não se tinha a percepção que até os heróis eram fabricados e que por trás de toda a bondade havia neles, embutida, uma ideologia de supremacia.

As roupas coloridas numa determinada cor, o aspecto que não se parecia com o meu, escondiam uma doce perversidade que até hoje encanta muitos. A gente cresce e vai deixando de acreditar nos heróis da infância. Aí, aprenderam a nos vender os mitos.

Gente que se supera no esporte, na música e em outros campos da vida acaba tendo nossa admiração. Gente também produzida para o exemplo do bem, mas que vacila. Acreditar, fantasiosamente, em heróis e mitos como ideais de perfeição é um erro. Todos são humanos e podem ter suas falhas.

Vender esse ideal de perfeição com o intuito de ludibriar os outros é covardia. Por trás, seja no esporte, política, artes ou em outras áreas, há sempre um jogo de interesse e quase sempre envolvendo alguma espécie de ganho para quem promove o pretenso herói, ídolo ou mito.

Quer saber, os anti-heróis com as suas imperfeições têm muito mais a nos dizer.

Aqueles seres bizarros com certa dose de maldade, mas que por vezes expressam gestos de bondade. Seres que possuem habilidades e que lutam para vencer os seus demônios.

Estes seres são mais admiráveis. Vilões? Nem sempre são. Estão mais próximos do ideal humano e tão pouco precisam de capa para se sobressair. O principal poder destes seres talvez seja a capacidade de adaptação.

Adaptação não no sentido de conformação, mas sim da capacidade de se postar diante de uma determinada situação. Seja ela boa ou ruim. Ideais de perfeição já foram importantes numa outra fase da evolução humana. Hoje o mundo pede a consciência das virtudes e defeitos. É ela, a consciência, que dará a condição de extrair o bom de cada um e permitirá que pelo entendimento das limitações seja possível ficar mais forte.

Nem mocinho e tampouco bandido. Todos são heróis à medida que se tem consciência dos seus poderes, que não são super, mas humanos.

Ao infinito e além.