Corrupção é um problema estrutural na sociedade e na política brasileira. Engana-se quem acha que com a prisão de petistas e o aniquilamento do PT se resolve o problema. Ingênua avaliação.
Rodrigo Dias
Em menos de uma semana, situações reveladoras indicam que a “crise” já deu. Pelos menos no que se refere a sua instrumentalização para fins escusos. A grande mídia começa a sinalizar neste sentido.
O Jornal Nacional da última sexta, o editorial de O Globo do dia sete de agosto e também o editorial da revista Época do último fim de semana endossam este raciocínio. Prova disso é que o jornal O Globo, entre outros pontos, sentenciou:
“Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo. Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?” (…)
A oposição faz biquinho e o governo festeja este novo reposicionamento da mídia sobre a crise, mas o momento não é, de fato, de nenhuma das duas vertentes políticas. O que está em jogo é a estabilidade e governabilidade do país e não esse joguinho esdrúxulo para ver quem pode mais.
Os analistas mais sóbrios, como o jornalista Ricardo Boechat, convergem para o entendimento de que o que trava o Brasil hoje não é a crise econômica, e sim a crise política, que implica que as decisões vitais para a retomada do crescimento do país e o combate à inflação se efetivem de fato.
O ambiente político gerado neste momento é uma forma de antecipar as eleições presidenciais. Até mesmo porque as discussões sobre o impeachment dão o lugar para uma nova tática: a de sangrar o governo. Enfraquecê-lo até o fim do seu ciclo.
Este clima de quanto pior melhor não leva a nada. Até mesmo porque se for passar um pente fino e despir parte da imprensa e da justiça de suas bandeiras e legendas, não sobrará partido sério por aqui.
Corrupção é um problema estrutural na sociedade e na política brasileira. Engana-se quem acha que com a prisão de petistas e o aniquilamento do PT se resolve o problema. Ingênua avaliação.
O pacto para a governabilidade não é um pacto a favor do Partido dos Trabalhadores, mas pelo Brasil. Se um partido incorreu em crime, outro comete também erro grave na medida em que se esforça para que o nó não se desfaça e a vida siga seu curso.
Meia dúzia de pessoas que se beneficiam com as crises econômicas e políticas não podem se sobrepor aos interesses dos milhões de brasileiros que compõem a nação.
As manifestações previstas para o dia 16 de agosto terão que ser a favor do Brasil. De uma estabilidade que dê segurança ao país. Sem ufanismo e sem ser massa de manobra daqueles que lucram com o caos, seja lá qual for sua cor ou bandeira.
A expectativa é que a crise passe, e esse ensaio de trégua que vem desde a semana passada se efetive a favor de um pacto pelo Brasil. Que não seja, apenas, um silêncio a anunciar uma nova erupção do vulcão.