Por Rodrigo Dias

Sim, o que é aparente chama mais atenção. Em várias situações julgamos, provamos e até cheiramos com os olhos. Um pacote bonito e bem acabado pode esconder um monte de coisas tolas e desnecessárias, mesmo assim, em virtude da apresentação, ficamos tentados em tê-lo.

O que tem uma aparência aceitável passa segurança. Desperta a vontade e os outros sentidos. Estimula o consumo. Por vezes, sem nenhuma necessidade para nós.

Essa importância dada à aparência é viciante e esconde armadilhas. Seja para atrair a atenção ou para supervalorizar um produto, o requinte dado à aparência ou apresentação de algo, em muitos casos, chega a ser maior do que aquilo que está sendo exposto.

O excesso de conceitos, de “barulho” que é feito em torno do que se quer apresentar pode virar um circo. Um espetáculo desnecessário. Numa sociedade tão midiática e com tanto acesso à informação e ao mundo digital como a nossa, esse conceito da teatralização das coisas pode ser letal.

Uma situação, produto ou fato tem que ser relevante – em primeiro lugar – pela sua importância e não pelos atributos que são dados a ele. Seja no show business, no jornalismo – e agora mais recentemente na política – vem se dando uma preocupação exagerada à aparência das coisas e não à coisa em si.

Espetacularizar uma notícia ou ato sério pode trazer danos irreversíveis ao país. A forma de apresentação da Operação “Carne Fraca” da Polícia Federal, realizada na última semana, caminha neste sentido. O teatro, o tom de alarme transformou um caso de corrupção em caso de saúde pública. Não que esse último não ocorra, mas pelo que se pode verificar após a divulgação dessa operação, esses seriam pontuais.

Ou seja, muito se fala do (im) provável papelão misturado na carne, e do envolvimento de políticos para beneficiar frigoríficos em troca de propina para esses mesmos políticos de mãos sujas.

O sentido das coisas é deturpado. Gasta-se energia desnecessária e expõe, mundo afora, a típica desorganização tupiniquim. Nem tudo é carnaval e por não ser, nem tudo é alegoria ou folia.

Assunto sério tem que ser tratado com seriedade. Sem adereços ou perfumaria. Sem, inclusive, a passionalidade de quem a expõe. Nos últimos anos o Brasil tem convivido com inúmeras operações da PF. Todas com nomes originais e cercadas de algum grau midiático.

O que aconteceu com a divulgação da “Carne Fraca” já podia ser esperado, visto que juízes, delegados e policiais federais são tidos como pop star e isso vai encorajando a ousadia no refinamento da aparência das coisas, em detrimento do fato em si apresentado.

É necessário recolocar as coisas no lugar. E dar a importância aos assuntos em função da sua extensão, ou seja, relevância. Sem se preocupar com o marketing dos fatos ou pessoal.

Há de se espantar a tal mosca azul, tão comum no meio artístico, para longe dos assuntos que são estruturantes para o Brasil.

Como disse Al Pacino no filme Advogado do Diabo:

“Vaidade é o meu pecado predileto.”

De fato, pura tentação.