“Não temos para onde levar nossos filhos”, lamentou uma das mães; Relato foi feito pela tribuna livre da câmara

 

Com as atividades encerradas, pais dos alunos assistidos pelo Centro de Convivência Salviano Avelar ocuparam o plenário da câmara de Divinópolis, nesta quinta-feira (12/8). Eles cobram respostas para o fechamento da entidade sem comunicação prévia.

O Centro, criado em 2006, assistia cerca de 40 pessoas com algum tipo de deficiência intelectual ou múltipla e tinha capacidade para até 60. As atividades eram realizadas de segunda a sexta, em dois turnos.

“Capengando”

Desde a implantação, o Centro de Convivência foi perdendo força. Inicialmente, mantido por meio de convênio com a Associação dos Deficientes do Oeste de Minas (Adefom), o repasse foi suspenso pela prefeitura em 2015.

Na época, a Vila de Nazaré assumiu a gestão. Em seguida, o convênio foi rompido, os funcionários demitidos e servidores da prefeitura alocados para as atividades.

A sede também mudou de endereço e foi transferida para o Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) do bairro Danilo Passos.

“Sem acessibilidade”, declarou a tribuna, Elena Maria de Souza, mãe de um dos alunos.

Em uma palavra, disse que nos últimos anos a entidade vem “capengando”, porém até então, mesmo com as precariedades, estava funcionando.

Fechamento

Não bastassem as dificuldades, com a mudança de governo veio uma nova surpresa.

“A Janete foi categórica em dizer que o Centro de Convivência acabou”, afirmou.

A informação foi repassada há cerca de um mês em reunião com a vice-prefeita e secretária de Governo, Janete Aparecida (PSC). As aulas estavam suspensas desde fevereiro do ano passado, devido a pandemia da Covid-19.

“Fecharam sem falar uma palavra com a gente, com as mães, com os usuários”, contou Elena.

A alegação é que não há embasamento jurídico para o município manter o Centro de Convivência para atender pessoas com mais de 29 anos. Hoje, são assistidos alunos com idade de 21 a 60 anos.

Novo projeto

Para atender os alunos, a prefeitura comprou 60 vagas no Centro Dia da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). As atividades são desenvolvidas em diversas ambiências e são direcionadas a jovens, adultos e idosos com deficiência intelectual e múltipla que necessitam de apoios extensivos e generalizados.

“O projeto Dia não atende a nossa realidade, a realidade dos nossos filhos”, afirmou a tribuna.

No Centro de Convivência os alunos participam de caminhadas, danças, cantos, passeios. Já no projeto Dia as atividades vão além.

“Tem dever para casa, eles desenham. Não temos para onde levar nossos filhos”, explicou, reforçando que não atende a realidade dos assistidos no Centro de Convivência.

“Deixo o meu repúdio contra a administração de não nos dar oportunidade de questionar o que queremos, como queremos que funciona. Isso é um horror, uma falta de respeito”, lamentou.

As comissões da câmara deverão acompanhar o caso, dentre elas a de Educação.

“Reordenação”

Em nota, a prefeitura disse que houve a “reordenação dos trabalhos”.

“Não existe Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) específico para pessoas com deficiência. Conforme visita, relatório e orientação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), o que existe é o centro dia de atendimento a pessoa com deficiência, que funciona em parceira com a APAE aqui em Divinópolis e já absorveu a grande maioria do público do Salviano Avelar. O centro dia inclusive pode ser batizado como Centro Dia Salviano Avelar”, informou.

A prefeitura ainda disse que “no Centro Dia trabalha-se a autonomia, autodefesa e autogestão dos usuários e a emancipação das famílias”.

“Por meio das oficinas, é possibilitada a convivência junto a pessoas com deficiência intelectual e múltipla, a convivência social e participação ativa na sociedade, bem como o desenvolvimento da autonomia e autocuidado, haja visto as atividades desenvolvidas e o acompanhamento sistemático e continuado do setor de Serviço Social. As oficinas Centro Dia foram criadas para dar mais autonomia aos seus usuários e assim prepará-los para uma vida ativa, dinâmica, produtiva e até mesmo para o mercado de trabalho”, concluiu.