Por João Paulo Barros

Vivemos um bombardeio de informações que supera os enredos da ficção “house of cards”, série que traz um mundo político recheado de ganância, corrupção e luxúria na capital norte-americana. Não é novidade a profunda crise política e de representação que estamos submersos, como os barcos naufragados em pleno oceano. Estamos diante de um momento histórico desafiador, em que não conseguimos enxergar nitidamente no horizonte, e nem para onde estamos indo.

O sistema de corrupção já é conhecido, debatido, investigado e exposto há um bom tempo e grandes escândalos estão constantemente em pauta. Porém, vemos novos contrastes na atualidade, pois os considerados “figurões” estão tendo que conhecer as celas da polícia. Além disto, estão tendo que passar pelo constrangimento de desfilar com agentes da Polícia Federal ao lado, mas desta vez, com uma escolta para um destino singular.

A crise é sem precedentes. E não são só os nomes, prisões e cargos em jogo, nos deparamos com um choque cultural, uma falência generalizada do atual modelo de representação e do Estado.

Além da consolidação do tão aclamado “Fora Temer” e da constituição de provas contundentes de indivíduos relevantes na disputa do cenário nacional, nos deparamos com um cenário de zona desértica de novas lideranças oxigenadas e com poderes políticos sem credibilidade e legitimidade.

Quais são as saídas? Inúmeras. Vamos acompanhar nas próximas horas e dias o ensaio dos desfechos prováveis para esta que já deixou de ser só mais uma operação realizada pelo poder judiciário, e se tornou a marca do desgaste do nosso “jeitinho brasileiro” e da forma que lidamos com as questões públicas. Na nossa cultura política temos naturalizado lidar com as emergências e contingências de formas tradicionais, mas com os novos traçados teremos o desafio de repensar o nosso Estado e a forma como as coisas se dão.

Para um jovem como eu, é preciso pensar em um novo modelo de representação que perpassa por uma transformação da forma do Estado, qualificando a Democracia,  transformando a estrutura afim de se terminar com o centralismo do modelo presidencialista de coalizão, e pensando em instituições sólidas, legítimas, modernas e sérias.

Não podemos deixar o país refém de heróis e vilões. Isso passa pelo surgimento de novas lideranças, comprometidas com os valores contemporâneos que estabeleçam um diálogo direto com a população e busquem respostas concretas para problemas públicos. Como também valores como caráter, perseverança e fluidez. Além de tentar colocar um fim aos privilégios estabelecidos por uma casta, que está no poder desde que este território é chamado República.

Uma radical mudança na cultura política se faz urgente. É preciso que o campo político seja priorizado a fim de se construir um futuro melhor para nós e nosso filhos. Não podemos preparar somente lideranças para o mercado, mas também para o campo político institucional. O sociólogo Bauman traz em seu livro “Em Busca da Política” que um dos maiores desafios da contemporaneidade é enfrentar o divórcio entre política e poder. É preciso que os reais problemas enfrentados pelos brasileiros estejam em pauta e que a política tenha o poder para resolvê-los. Nosso ecossistema está um caos, portanto precisamos urgentemente pensar, repensar, desenhar e construir um futuro onde a prisão e punição de corruptos não seja tão chocante.


*João Paulo Barros

Estudante de Ciências do Estado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Diretor de Relações Institucionais da Federação Nacional do Campo de Públicas (FENEAP). Presidiu a União Estudantil Divinopolitana (UED). Atuou como dirigente e integrou diversas instituições, órgãos de regulação, consultivos, deliberativos, de controle e movimentos sociais. Participou de projetos nacionais e internacionais com temáticas voltadas para educação, protagonismo e cultura política.