Dizem que Leleco é sem noção. Não tinha trava na língua. Pensamento para ele, desde pequeno, era fluído. Era pensar e falar. Leleco não digeria o que pensava, apenas dizia.

 

rodrigo (1)

Julgava necessário sempre ter uma opinião sobre tudo. Desfilava seus verbos sobre os mais variados assuntos, até mesmo sobre aqueles que não compreendia ou que nunca ouvira falar. Era do tipo que percebia o silêncio como omissão que gente esperta e criativa tinha que ter expertise. Falar, mesmo não sabendo o significado da palavra.

Falava tanto que convulsionava. Babava nas palavras e nas pessoas. Impunha-se não pela qualidade da sua retórica, mas por não saber parar com ela e, até mesmo, não saber se deveria começar.

Leleco lia as revistas semanais e assistia ao telejornal. No trabalho ou no clube reproduzia tudo que via. Atualizava quem estava ao seu lado. Leleco estava catequizado. Aprendera o que alguns pré determinaram que ele devesse saber. Ele julgava saber muito.

Considerava-se um sujeito bem informado. Futebol, política e cinema eram com ele mesmo. Dominava com propriedade os assuntos dos outros que acreditava ser conhecimento seu a ser compartilhado com os “ignorantes”.

Leleco não era má pessoa só se achava bem informado e por ser assim considerava ter mais razão do que outras pessoas. Ficava fulo da vida quando era confrontado. Afinal, opinião válida é a dele que viu ou leu no jornal tudo aquilo que dizia.

Alguns podem até dizer que a principal limitação de Leleco era não ter massa pensante. Mas acredito que lhe faltava estômago que servisse tanto para ter náusea do que lhe fosse impróprio, como também para digerir o que lhe fosse verdadeiramente saudável.

Estômago e senso crítico servem exatamente para isso: para repugnar e absorver. Sintetizar a informação é bem diferente de reproduzir o que se ouve por ai. A capacidade de síntese vem de absorver a informação de meios distintos e, então, julgá-la com os instrumentos que vamos obtendo ao longo da nossa formação.

Elementos culturais, sociais, econômicos, dentre outros, sempre vão interferir neste julgamento da informação e na sua absorção pelas massas. O Leleco e outros tantos talvez não aprendam, mas há muita gente de boa vontade que estabelece outro tipo de relação com a informação e com quem a produz.

A informação para ser boa é aquela que completa. Ela é mais do que um simples boato ou uma meia verdade. Informação soma e, portanto, agrega valor. Mais do que isso, a boa informação é a constante busca do esclarecimento. Isso sim, forma o conhecimento.