Sonhar é empurrar para longe o horizonte de expectativa e aumentar as possibilidades do que pode ser. Pode ser na vida pessoal, pode ser na vida social e política. Sonhar é retrucar o velho e gasto “é assim mesmo que as coisas são” com “é assim, mas podia ser diferente”.
Cochise César
O historiador alemão Reinhart Koselleck cunhou duas expressões fabulosas: espaço de experiência e horizonte de expectativa. A primeira se refere a tudo que já vivemos, o país, a cultura e a família em que fomos criados, os traumas pessoais, as coisas que aprendemos na escola, os sucessos e fracassos. Tudo que vivemos. Essa experiência acumulada nos permite projetar possibilidades para a nossa vida, para nosso grupo, para a nação. O limite dessa projeção é o horizonte de expectativa. Toda ação humana se dá nesse limite entre o espaço de experiência – o que já vivemos – e o horizonte de expectativa – o que acreditamos ser possível viver, mas a distância entre essas duas não é automática, porque o horizonte é traçado pelo sonho.
Administradores de empresa e palestrantes motivacionais vão dizer que a palavra que eu procuro é ambição, e não sonho, mas bato o pé: é sonho. É da matéria dos sonhos que as pessoas são feitas. Nikola Tesla sonhou um mundo tão a frente do horizonte de expectativas das mentes mais brilhantes da sua geração que as pessoas simplesmente não o levavam a sério, mas era um homem absolutamente sem ambições.
Mas não é só o gênio pessoal que nos instiga a sonhar, até porque o gênio pessoal também é fruto do espaço de experiência. Algumas ações coletivas acendem a chama do sonho e isso é mais importante do que qualquer outro aspecto dessas ações. Exemplos? Cotas nas universidades e concursos públicos, que fazem as categorias contempladas sonharem com sua chance. Programas como o ProUni e o Ciência Sem Fronteiras fazem as pessoas buscarem uma formação que não sonhavam. Empresas júnior e incubadoras de inovação, apesar de ainda serem raras, onde existem fazem as pessoas sonharem o novo em vez de realizar o mesmo. Se me perguntar, as melhores políticas públicas são as que fazem as pessoas sonharem vidas novas para elas e para os outros.
Sonhar é empurrar para longe o horizonte de expectativa e aumentar as possibilidades do que pode ser. Pode ser na vida pessoal, pode ser na vida social e política. Sonhar é retrucar o velho e gasto “é assim mesmo que as coisas são” com “é assim, mas podia ser diferente”. Sonhar uma cidade humana, limpa, educada, arborizada, acolhedora, com intensa vida cultural, emprego para todos e serviços públicos de qualidade, é dizer que essa cidade é possível.
Trazer para dentro do horizonte de expectativa é ver pelo menos a direção para qual se precisa caminhar. Muita gente sonha em Divinópolis, e já se pôs a caminho, mesmo sem saber se vai chegar. Essa gente é perigosa, porque elas querem forjar o novo e toda mudança é um perigo para quem já está bem estabelecido. Talvez por isso os palestrantes motivacionais falem em ambição, não em sonho.
Com o que você sonha?