Bem mais do que aprovar a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e encaminhá-lo para a análise e julgamento no Senado Federal, a reunião na Câmara dos Deputados no último domingo, 17, expôs a fragilidade de conteúdo, argumento e de postura parlamentar que esses políticos possuem.

 

rodrigo (1)

Nas redes sociais ou nas rodas de conversa o brasileiro analisou a postura dos políticos. Seja questionando ou ridicularizando-os. O fato é que o Congresso Nacional é um recorte da sociedade brasileira, e quando questionamos os deputados devemos, primeiro, questionar a nós mesmos que votamos em canalhas, palhaços, dissimulados e toda espécie de gente que dificilmente tem como contribuir com políticas efetivas e transformadoras para a sociedade.

Além das caricaturas e aberrações vistas no domingo, é possível aferir alguns entendimentos de como são os nossos representantes. Três pontos me chamaram bastante a atenção:

O primeiro deles é que o Congresso, que teria de ser um ente plural que encampasse pensamentos distintos com mais tolerância e respeito tem sido, excessivamente, fundamentalista. O viés religioso, de forma extremista, limita o pensar e caça, num outro plano, a liberdade de expressão em nome da moral e dos bons costumes pregados pela “fé” de quem convém.

Praticamente na mesma linha do primeiro, destaco como segundo ponto o conservadorismo do Congresso. O pensamento e a forma de fazer política são herméticos e não aceitam mudanças mais amplas. Pior do que isso é a constatação de que a vaga ao cargo de deputado é posse da família que a detém. Não foram poucos os casos vistos no domingo, de parlamentares que sucederam pai e avô no parlamento ao longo dos anos. Este fato remete à possibilidade do voto de cabresto, tão comum em regiões menos desenvolvidas ou miseráveis.

Por último, destaco que o Congresso é paternalista no seu funcionamento e pensamento. Aquele que resolve e dita as regras, por vezes sem razão, mas que se faz valer da autoridade de pai para impor suas vontades. A truculência na defesa das idéias é típica do machismo e isso não combina com uma casa parlamentar.

Enquanto estamos rindo e fazendo piada do nosso reflexo no Congresso, o mundo ri de nós. Vários jornais, em diversos países, destacaram não só o impeachment, mas a fragilidade dos nossos políticos e o fato de uma boa maioria do Congresso estar às voltas com a Justiça e querendo caçar uma presidenta que não é ré em nenhum tipo de processo.

Depois de domingo ratifico algumas convicções que tenho sobre política e políticos: Nós votamos mal e vamos continuar votando assim por um longo tempo até adquirir maturidade política. É necessária, com urgência, uma reforma no sistema político, para oxigenar o parlamento. Extirpando a reeleição em todos os níveis e também de forma cruzada entre os cargos.

A vergonha verificada no último domingo não foi dos deputados. Ela é nossa, por ter passado recibo para eles nos representarem. Infelizmente, também fazemos parte desse circo.

Durma com um barulho desses.