Foto: Arquivo Pessoal

Nessa semana, tomou posse nos Estados Unidos o presidente Donald Trump. Depois de um mandato caótico, tanto na política externa quanto na gestão da pandemia, surpreendentemente, Trump voltou à Casa Branca com ampla margem de votos.

Isso abre várias discussões, dentre elas: o crescimento do reacionarismo, os discursos que cativam a população e o reflexo disso tudo no Brasil, na América e no mundo.

Bom, vamos por partes. Em primeiro lugar, há um sopro reacionário no mundo, podemos dizer, desde 2016, com a primeira eleição desse senhor. Para lá de atípico, ele conquistou o povo americano, embora numa eleição muito mais apertada do que a de 2024, prometendo fazer um muro na fronteira com o México e endurecer a política de deportação de estrangeiros ilegais. E cumpriu: assistimos aos horrores de famílias separadas e crianças dentro de gaiolas.

Ameaçou o tempo todo países com quem os EUA tinham desafetos, como a Rússia e a Coréia do Norte. Para terminar o mandato, fez uma condução completamente negacionista da pandemia e, quando perdeu as eleições, estimulou a invasão do Congresso, similar ao que ocorreria no Brasil em 2022. Isso tudo tem um nome: reacionarismo.

Trump, como reacionário, se aproveita da religiosidade popular e a insatisfação com problemas sociais (como a imigração), converte-as em ódio e sai por aí aplicando essa fórmula. Como os EUA tem problemas sociais e econômicos diferentes dos do Brasil, a extrema-direita lá se baseia nisso.

Continuando por essa análise, o que me preocupa é o reflexo disso no nosso país. Nossos dois importantes parceiros diplomáticos e comerciais, Estados Unidos e Argentina, estão sendo governados por figuras sombrias, apesar de Trump ser um fascista e Milei ser apenas um fanfarrão. São líderes reacionários, ultrapopulistas e com uma péssima capacidade de condução de política externa.

O Brasil, por sua tradição pacífica, tem a tendência de agir como um camaleão – adapta sua diplomacia
conforme a reciprocidade do outro país. No entanto, o que me preocupa mais ainda é o reflexo disso nas nossas eleições: é provável que Lula seja o candidato da chamada “ala progressista e anti-bolsonarista”, mesmo com a rejeição cada vez mais em alta, e a direita se fragmente entre Pablo Marçal, Gusttavo Lima (risos) e talvez algum outro (não acredito que Tarcísio sairá).

Ainda assim há perigo: com financiamento estrangeiro em campanhas de notícias falsas e dois líderes americanos instáveis, corremos risco de ver algo similar a 2018. Fora isso, Trump promete fazer mais protecionismo comercial, e com isso, retaliar nossas exportações.

Pela pacificidade do Brasil, quanto à diplomacia, não acredito que haverá tensão. No entanto, a preocupação dos especialistas é quanto ao comércio exterior. Trump já se comprometeu a impor tarifas alfandegárias sobre produtos, inclusive do Brasil. Hoje, os EUA são o segundo maior parceiro comercial do nosso país, sendo responsáveis por comprar quase US$ 40 bilhões. Logo após assumir, disse que se o BRICS, maior bloco econômico do qual o Brasil faz parte, fizer uma moeda alternativa ao dólar, eles “não
ficarão felizes”. Ou seja, essa é uma estratégia clara de ameaça via sanções comerciais para que a hegemonia dos EUA se mantenha.

Para terminar, nessa mesma semana (muito tensa, inclusive) disse que os EUA não precisam do Brasil e da América, mas nós precisamos deles – e ainda há quem diga ser patriota e aplauda isso. Fora isso, o caos já começou: Trump ordenou que o governo reconheça apenas dois gêneros e retire símbolos LGBTQIA+ de repartições públicas, anunciou a saída da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Acordo de Paris – importante para o clima, e concedeu anistia para 1500 condenados pela invasão ao Capitólio, o Congresso estadunidense, em 2021.

O que nos espera pelos próximos quatro anos só o tempo dirá. Enquanto isso, vamos nos preocupar em fortalecer bons candidatos e, com isso, eleger representantes dignos na próxima eleição. Haja o que houver, devemos cuidar do nosso próprio quintal.

    *Laiz Soares escreve semanalmente neste espaço.

    ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PORTAL GERAIS.