Determinadas situações dizem muito do país que somos. Neste mês, duas específicas esclarecem bem esse fato. Logo no início de abril, o governo federal, através da Receita, anunciou que quer o fim da isenção de impostos sobre livros. De acordo com o Fisco, os mais pobres não compram livros e a desoneração conquistada pelo setor em 2004 não trouxe como benefício a redução do preço e o aumento do consumo.
Se não bastasse esse fato, o Governo Federal anunciou na sequência quatro decretos do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizam a compra de armas, munições e equipamentos para a fabricação de munições caseiras no Brasil. Entre as facilidades oriundas dos decretos, está o aumento de quatro para seis na quantidade de armas que um cidadão comum pode comprar. Profissionais da segurança pública poderão ter até oito. Bastante questionados, os decretos estão sendo avaliados pelo Supremo Tribunal Federal.
Os dois exemplos podem ajudar a explicar parte do Brasil que temos hoje. Se por um lado há uma nação mais conservadora, afeita a proteger seu patrimônio e família na bala, do outro lado existem os marginalizados, vítimas do sistema, que sem amor próprio não têm amor também pela vida do outro. E na bala pensam em estreitar a desigualdade.
Mas esse ainda não é o ponto que quero abordar neste artigo. Vou dar uma cambota no texto para focar num outro ponto, relacionado ao consumo literário.
Essa coisa de que pobre não lê é um engodo. Tem muita gente que junta “pratinha” e se dá, com certa regularidade, esse presente: a compra de um livro. E mesmo que o livro físico seja inacessível para alguns, a tecnologia é uma forte aliada na introdução e promoção da leitura.
Via celular, tablet ou computador, por meio da internet, é possível ter acesso, boa parte de forma gratuita, a uma série de obras de escritores renomados e novos autores. Além de contar com resenhas, programas e documentários diversos sobre o universo literário via YouTube, por exemplo.
Outra possibilidade interessante é seguir, via rede social, autores e autoras contemporâneos. Nos seus perfis têm sempre novidades. São textos, artigos, crônicas, contos e, claro, muita poesia de gente talentosa que tem muito o que dizer e nos inspirar.
Quem me acompanha, sabe que ainda não publiquei livro, mas todo dia tem lá nas minhas redes sociais um poema ou artigo. Se querem dificultar o acesso aos livros por considerar ser luxo, está na hora de se adaptar e buscar outras formas de consumir literatura.
E Brasil afora tem muita gente boa produzindo. Cito, aqui, alguns que podem ser acessados através das redes sociais: Patricia Claudine Hoffmann, Júnia Paixão, André Luis Ribeiro Rodrigues, Tadeu Rodrigues, Lu Genez, Nil Kremer, Nara Vidal, Pedro Salomão, entre muitos outros que sigo e leio diariamente.
Num país polarizado, bélico, podem até querer tornar mais fácil comprar armas do que livros, mas quem tem bala na agulha entende que há outras formas de consumir literatura.
É o pensar… o sentir que nos faz diferentes. Até mesmo com um fuzil nas mãos.