Suspeita integra organização criminosa que manipulava documentos para beneficiar pessoas em busca de indenizações ilegais após a tragédia de 2019

A Polícia Civil de Minas Gerais prendeu, nesta quarta-feira (12/3), uma recepcionista de 28 anos, suspeita de integrar uma organização criminosa especializada em falsificar documentos médicos usados em ações judiciais de indenização.

Essas ações estavam relacionadas ao rompimento da barragem em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.

Segundo as investigações, a suspeita atuava como secretária e administradora de clínicas médicas. Ela apontada como responsável pela falsificação de laudos e receitas médicas, utilizando assinaturas de profissionais de saúde sem o consentimento deles.

Dessa forma, o objetivo era beneficiar pessoas que tentavam obter indenizações de forma ilícita.

“Ela era uma peça central em todo o esquema, porque tinha contato com os advogados, médicos, psicólogos e as pessoas que solicitavam os laudos médicos”, afirmou o delegado Magno Machado, chefe da divisão de fraudes da Polícia Civil de Minas.

Investigação

Além disso, a investigação começou há 11 meses, após o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) perceber o alto volume de ações cerca de 12 mil processos por danos morais contra a mineradora Vale, responsável pelo desastre.

Portanto, esse aumento de pedidos, portanto, levantou suspeitas de irregularidades no processo de solicitação de indenizações.

A polícia revelou, ainda, que os laudos médicos fraudulentos eram feitos sem consulta direta aos psicólogos.

Em vez disso, os formulários eram enviados por aplicativos de mensagens. Esses formulários encaminhados para as clínicas, onde médicos e psicólogos preenchiam os laudos falsos, sem examinar os solicitantes.

“Vamos precisar ouvir muitas pessoas para entender a real participação e separar os médicos que agiram dentro da legalidade daqueles que contribuíram para as fraudes. O mesmo acontece com os escritórios de advocacia”, explicou o delegado.

Além disso, mais de 20 pessoas estão sendo investigadas por envolvimento no esquema. Surpreendentemente, a investigação mostrou que muitas pessoas que ingressaram com ações judiciais não sofreram prejuízos diretamente relacionados à tragédia de Brumadinho.

“Observamos que muitas dessas pessoas não perderam ninguém na tragédia, não tiveram prejuízo financeiro e ingressaram nas ações para tentar obter vantagem ilícita”, disse Machado.

Por fim, o juiz auxiliar da presidência do TJMG, Marcelo Fioravante, informou que não é possível calcular o impacto financeiro causado pelas ações fraudulentas aos cofres públicos.

No entanto, ele destacou que os valores solicitados variam entre R$10.000 e R$100.000.

“É precipitado falar em valores exatos, mas há pedidos de R$10.000, R$20.000, R$100.000 em várias ações”, afirmou o juiz.

Portanto, a investigação segue em andamento, com a polícia buscando identificar todas as pessoas envolvidas e apurar o alcance dessa fraude.

A expectativa é que ela afete tanto os cofres públicos quanto a credibilidade dos processos de indenização destinados às vítimas reais de Brumadinho.