Sem esta conversa de que o universo conspira contra. Se uma determinada coisa não foi devidamente calculada tende a dar errado mesmo. A tal lei de Murphy nada mais é do que a nossa inoperância na condução dos fatos que vão seguir, assim, para o caminho do erro.

 

 

rodrigo (1)

Exemplo? Tome um: chegava em casa de carro com som alto, apressado e distraído. Ao entrar na garagem, processo que já repeti uma centena de vezes, uma curva malfeita rendeu arranhões na lateral do carro.

Com o fato, o primeiro sentimento foi de raiva. Afinal, foi um acidente besta. Evitável sim. Por entender dessa forma o sentimento de raiva foi substituído pelo de culpa. A responsabilidade foi toda minha e não do universo, que tivesse conspirado para aquela ocorrência.

O fato é que, de tão ligados, ficamos desligados para as coisas cotidianas. Parece que andamos numa outra frequência dos acontecimentos que nos cercam, o que compromete a nossa leitura, real, das situações. Influenciando, assim, na tomada das decisões mais corretas.

Se no mundo moderno tudo é regido pelo tempo, que parece cada vez mais escasso, sentimos falta daquele último instante revelador. Aquele que permite tomar o caminho certo e que nos tire das ciladas cotidianas.

A não percepção desse último instante – aquele em que se respira e serve para organizar o desembaçar das ideias – aponta que estamos ligeiramente robotizados. Sentir, então, passa a ser qualidade dos esforçados que abriram mão de ser apenas “motores”.

A culpa é minha, sua e dos outros. De todos que estão sujeitos a este automático da vida moderna. Em que, não raras vezes, um bom dia é tão protocolar e frio. Desconexo até.

Para piorar criamos casulos de sobrevivência, o que é estranho. Pois no mesmo momento em que expomos nossas vidas nas janelas abertas pelas redes sociais, tem-se a necessidade, também, de buscar proteção atrás dos óculos escuros, dos fones de ouvidos, das cercas elétricas e do vidro escuro do carro fechado.

É bem verdade que em determinadas ocasiões trata-se de segurança física e patrimonial, mas o problema é quando isso vira hábito e nos tornamos reclusos da vida real. De nós mesmos.

Pensando assim, e sob o pretexto de um pseudo-relaxamento momentâneo após um dia puxado de trabalho, o som alto no meu carro e minha distração, talvez inconsciente, foi mais um experimento de fuga. O casulo escolhido para aquele momento.

Cada um cria o seu: bebidas, cigarros, drogas, sexo desvairado e até mesmo o chocolate. A procura daquele instante de prazer e fuga. Algo que reconforte. Preencha o que está faltando.

O tal último instante tem suas simbologias e interesses, mas nada mais é do que tempo. Essa fração da existência que é determinante. Tanto para o que é certo ou errado.

Tempo é o que escraviza, mas também o que liberta. Tudo num instante.