Foto: Arquivo Pessoal

É urgente a necessidade de real inclusão de crianças autistas na educação e na vida em sociedade. Nos últimos dias vimos notícias tristes e alarmantes de autistas passando por situações de negligência e hostilidade na cidade.

Uma criança num restaurante foi ameaçada de apanhar por ter empurrado uma outra criança no parquinho. Mesmo com a mãe dizendo que a criança era autista, o adulto ignorou e prosseguiu com sua violência.

Além dessa, outra notícia de uma criança autista que saiu da escola sozinha porque deixaram o portão aberto. A criança foi achada chorando em um bar a 7 quarteirões da escola. Os pais, que não tiveram sequer ajuda da escola para procurar o filho desaparecido, estão processando o município, que foi negligente com algo tão sério como a vida de uma criança. Diante desses casos, fica clara a necessidade de se debater mais o tema, levar mais informações para a sociedade e cobrar políticas públicas do município e do estado.

O primeiro ponto para crianças com deficiência é ainda o diagnóstico precoce e preciso. Não basta dizer que uma criança tem síndrome de down ou autismo, mas é necessário conhecer logo do que cada uma precisa para seu desenvolvimento pleno. Cerca de 18% das crianças com síndrome de down tem autismo e quase todas algum nível de deficiência intelectual . Além disso, quase 70% das crianças com autismo tem TDAH. Questões motoras, sensoriais e de linguagem também variam e mudam completamente o rumo das terapias. Este diagnóstico preciso, do jeito que é necessário, é coisa pra profissionais super qualificados e experientes. Este profissional é o neurologista e o psiquiatra pediátrico e com especialidade em estudos sobre cada um dos transtornos, síndromes e suas comorbidades (situações que vem com o transtorno ou com a deficiência principal). Por isso, tem se espalhado pelo Estado Centros de Diagnóstico que reúnem estes profissionais qualificados.

Depois do diagnóstico, vem a demanda por um volume intenso de terapias, porque ninguém vai acreditar que uma criança possa aprender a falar com 30 minutos de fonoaudiologia por semana ou a cada 15 dias, que é o que a Rede SUS oferece hoje. Estes profissionais precisam estar perto da casa das pessoas, nos postos e não em centros de atendimento distantes da casa da pessoa para serem acessados 2, 3 vezes por semana.

Outra questão é que psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos dos postos precisam receber formação intensiva sobre novas técnicas que são confirmadas por evidências científicas. Para uma criança que não fala, cada dia de atraso no tratamento correto fará muita diferença em seu futuro. Além disso, mesmo com o diagnóstico precoce em um centro de referência e quantidade e qualidade de profissionais nos postos, ainda assim, a educação parental é fundamental para apoiar e intensificar as terapias.

Além da saúde e da família, é importante debatermos o papel da escola. O primeiro ponto é que a escola tem a obrigação de matricular todas as crianças sem restrição ou adiamento de ingresso seja por qual motivo for.

Notícias como a dos últimos dias de pais que não estão conseguindo matricular filhos autistas é algo criminoso. Muitas escolas pedem prazos para o ingresso porque dizem não ter profissionais preparados. Isso é ilegal. A escola tem que ter formação para receber todo e qualquer aluno. Mas não basta a matrícula. O direito da criança na escola é se desenvolver plenamente.

Para isso, as leis federais da pessoa com deficiência e da pessoa com autismo já dizem o que é direto do estudante da educação especial: o acompanhante especializado quando necessário e o atendimento educacional especializado no contraturno.

Mas aqui em Divinópolis: temos centro para diagnósticos precoces? Quantos psiquiatras, neuros, psicólogos, fonos e TOs temos em cada posto de saúde? As famílias recebem informações para intensificar os tratamentos? As escolas matriculam e oferecem o acompanhamento educacional especializado e o auxiliar em sala, quando necessário?

Muitas perguntas, poucas respostas e uma prefeitura que responde pouco quando questionada sobre uma criança autista que sumiu da escola porque deixaram o portão aberto e ninguém sabe nem viu o paradeiro daquele aluno. É o retrato do descaso, da má gestão e da negligência.

*Laiz Soares escreve semanalmente neste espaço.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PORTAL GERAIS.