Rodrigo Dias

James Cameron, em Avatar, profetizou: é possível viver em dois mundos. Trafegamos, todos os dias, no mundo real e no virtual. Para muitos, um completa o outro ou, até, um é a extensão do outro.

E quando o indivíduo é inseguro, frustrado e cheio da vida real? É possível viver apenas no mundo virtual, ditado pelas redes sociais? A psicologia já ensina que o homem é composto de vários eus ao longo de sua existência, e cada um deles se manifesta mediante as situações em que é posto à prova.

No mundo virtual isso se potencializa de tal forma que é possível montar um eu completo. Um personagem de si mesmo, idealizado, difícil de ser construído no mundo real.

O eu completo do mundo virtual não tem defeitos aparentes. Está sempre discutindo e opinando sobre assuntos interessantes. Ele chama a atenção das pessoas e agrega outros amigos ideais. Gente, que segundo ele, não lhe daria atenção na vida real, mas que o considera neste mundo desmaterializado.

Não trato aqui de um mero fake, mas de gente real que põe sua própria cara e que se apresenta de forma mais atraente para os outros no universo virtual, ou se desinibe e exercita lados que julga difíceis de demonstrar ao outro num contato mais íntimo.

Mas ninguém está suficientemente protegido ou escondido nesta imensa aldeia global em que se constituíram as redes sociais. Como na vida real, ela também é seletiva e tem os seus nichos.

O grande diferencial, a meu ver, é que por não ter barreiras continentais aparentes – a não ser pela limitação da língua – ela aproxima os iguais. Arrisco a dizer que há uma tendência das pessoas criarem uma afeição muito mais rápida a você no universo virtual do que na vida real. O anônimo não seria tão anônimo assim.

Basta uma foto ou uma frase bem encaixada e logo alguém, que nunca se imaginaria conhecer mesmo morando no mesmo bairro e cidade, vem e curte. Daí surge um contato que pode se prolongar.

Por enquanto o mundo virtual é inanimado. Interage-se com ele por meio de plataformas específicas. Mas já há filmes, seriados e até mesmo desenhos animados que inserem o homem de fato dentro da rede. Uma espécie de universo paralelo em que se pode tocar, sentir e até mesmo respirar. Chegaremos a este ponto? Não sei dizer.

Mas se para muitos a vida anda chata por aqui, a possibilidade de ter o seu avatar no mundo virtual e desbravá-lo é algo excitante. Encontro? Os mais críticos diriam que não, pois vêem este fato como fuga.

Até mesmo porque, pensariam eles, seria mais prazeroso se construir no mundo real. Criar suas conexões por aqui mesmo, no que é palpável. Onde há calor e presença.

No mundo virtual é possível ser o tal e ter dezenas de amigos, mas basta desligar as plataformas de acesso a ele e logo se está sozinho de novo. Num contexto como este e antes de qualquer outra foto ou evento as ciências como a filosofia, a psicologia e até mesmo antropologia indicam: é imprescindível ao indivíduo curar o seu vazio existencial.

É o mundo interno que mais clama por atenção.