Não acredite em tudo que você vê, ouve ou lê. Muito do que está aí foi pensado para nos convencer, direcionar a opinião pública predeterminá-la e a partir daí construir entendimentos que podem ser falhos ou atender a certos interesses.
Não estou instituindo aqui a tal teoria da “conspiração”. O elemento da ação é mais sutil, mas igualmente determinante e tão presente em nossos dias: o marketing.
Marketing não é comunicação, é a estratégia por trás dela. Ele é o planejamento e construção de narrativas. Ao contrário do que pressupõe o entendimento raso do que seja o marketing, limitando-o ao ato de estimular vendas, ele abrange questões mais profundas. Não é a forma (publicidade) é o conteúdo e os fins.
Dito isso, é bom percebermos que em plena pandemia – com mais de 300 mil mortos Brasil afora –, o mkt é um instrumento utilizado por governantes para se promoverem em meio ao caos.
Foi o que aconteceu na última sexta, 26, com o anúncio, a meu ver precoce, da vacina Butanvac por parte do governo de São Paulo, que apresentou a vacina como sendo 100% nacional, ou seja, toda desenvolvida no Brasil. A notícia gerou furor e mexeu com nossos brios e deixou João Doria, governador de SP e pré-candidato a candidato a presidente, numa situação confortável de novo “herói” tupiniquim.
Horas depois descobriu-se que a história não era bem essa, e que a tecnologia da vacina tinha sido desenvolvida nos Estados Unidos e que a expertise em produção em larga escala é que seria toda nacional. Para piorar, no mesmo dia o governo federal anunciou a Versamune como a primeira vacina nacional. Já com pedidos para testes, nas fases um e dois, já protocolados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.
O que quero demonstrar com isso é que o marketing é utilizado para instituir narrativas e, no caso, promover pessoas e instituições. As duas vacinas podem até ser promissoras, mas ainda estão longe de se tornar uma realidade no braço dos brasileiros.
O que pode se concretizar só no ano que vem. Isso, se obedecidos todos os critérios de testagens e de aprovação pela Anvisa. Em suma, venderam ilusão. Pelo menos por agora, em troca de pura promoção… Exposição.
Para não ficar apenas no universo da pandemia coloco aqui o marketing em outro ambiente: é cada vez mais frequente a presença de pessoas negras na publicidade. É negro dirigindo carrão, sendo gerente ou executivo de banco. Tem até família negra em apartamento de alto padrão, ostentando felicidade plena.
Se por um lado isso é bom para questões de “representatividade”, por outro corre-se o risco de tudo configurar numa bolha. Bem distante da realidade do negro no Brasil. Se for assim, o mkt se resume apenas num posicionamento da marca das empresas, por meio do conceito de “diversidade” e só. Estando, portanto, descolado da realidade.
Bom mesmo seria se além de usar a imagem do negro para suas marcas, o marketing partisse de projetos sociais que modificassem a realidade das pessoas. Isso soaria mais verdadeiro. Com as empresas dando seu retorno social para a sociedade.
Para encerrar atrevo-me a colocar nesse pacote a reforma ministerial do Bolsonaro, promovida na última segunda, 29. Seis nomes em seis ministérios e pastas diferentes incluindo aí o Ministério da Justiça e o da Defesa. Considerando o marketing como um elemento de construção de narrativas, faço coro ao que pontuou o historiador Marco Antônio Villa no Jornal da Cultura da segunda passada:
“O presidente está caminhando para um Golpe de Estado. Não tem nada de Centrão na história, isso é para enganar gente que é ingênua em política. Ele está preparando um Golpe de Estado. (…) É um momento muito grave que estamos vivendo. O presidente avançou as suas peças. Ele é um golpista, um naziofacista; ele não é um democrata e conspira contra a Constituição e o fez durante 30 anos de vida parlamentar” (…), diz Marco Villa.
Nem tudo que parece é. Nem tudo que é aparece.