A chamada linguagem “não binária” neutraliza palavras, por exemplo, amiga e amigo passam a ser amigue ou amigx

Tramita na Câmara de Divinópolis projeto que visa proibir a chamada “linguagem neutra” nas escolas, instituições de ensino superior e de cursos na cidade. A proposta foi apresentada pelo vereador Eduardo Azevedo (PSC).

A chamada linguagem “não binária” foi criada por grupos que não se identificam com o gênero masculino nem com o gênero feminino. Trata-se de uma tentativa de neutralização das palavras. Exemplo: substitui-se “amigo” ou “amiga” por “amigx” ou “amigue”.

Para o autor do projeto, a lei é uma forma de estabelecer “medidas protetivas” ao que chamou de “direto dos estudantes” ao aprendizado da língua portuguesa.

“De acordo com as normas e orientações legais de ensino, na forma que menciona”, diz na justificativa.

Azevedo trata a mudança como “inadmissível” e diz que não se pode permitir que a “língua portuguesa seja instrumentalizada para fins de subversões ideológicas”.

“A língua pátria, por si só, já prevê instrumentos linguísticos abarcantes de todos os grupos, sem causar qualquer tipo de discriminação”, argumenta no projeto.

O vereador ainda disse que o ordenamento jurídico já prevê os direitos inestimáveis de dignidade da pessoa humana, vedação à discriminação e igualdade. Alega que não podem ser acolhidas propostas de modificação linguísticas com escopo somente “ideológico de ideais segregantes e de luta de classe”.

A Comissão de Educação da Câmara pediu parecer para o Conselho Municipal de Educação que votou pela não aprovação do projeto na câmara. A matéria ainda está em tramitação.

O parecer foi elaborado pelo professor José Heleno Ferreira. Ele alega que o vereador não deixou claro se a proibição é da linguagem neutra ou inclusiva.

Essa última busca contemplar diversos gêneros, mas sem criar ou alterar novas palavras, por exemplo, “todas e todos”.

“Para além disso, o principalmente problema é que ele propõe a proibição e não podemos admitir a proibição do uso de novos termos. É preciso que nas escolas e processo educativo das novas gerações, as manifestações que estão acontecendo, sejam no mínimo discutida. Isso é ignorar que a língua é viva e está sempre se transformando”, analisou.

Outra inconsistência apontada pelo professor é que o projeto faz referência ao ensino superior. Segundo ele, o município pode legislar apenas nas escolas municipais e na rede infantil em geral.

Ferreira  classificou o projeto como “antidemocrático” e “autoritário”.

“Não se trata defender que o professor tenha que usar a linguagem neutra e inclusiva, isso vai depender da relação que ele tem com a língua e que ele estabelece em sala de aula”, opinou.