Após 21 dias em tratamento, deputado federal questiona apropriação política do debate sobre vacinas

Ricardo Welbert

O deputado federal Domingos Sávio (PSDB) está curado da covid-19. Em entrevista exclusiva ao PORTAL GERAIS nesta quarta-feira (23), ele disse que se sente bem e que o resultado de outro teste, que saiu no dia 17 último, deu negativo para o novo coronavírus. Em meio à polêmica gerada pela politização das vacinas, afirma que os governantes precisam respeitar e confiar nos cientistas.

“Tanto a ciência quanto a política devem servir à vida. Quando se discute uma vacina, deve-se discutir do ponto de vista científico. Deve se respeitar o trabalho e as decisões da ciência em defesa da vida. Qualquer figura de projeção que cometa a besteira de dizer que a vacina representa risco à saúde presta enorme desserviço”, comenta.

Para o parlamentar, a política desempenha papel essencial na liberação de financiamentos e na oferta de infraestrutura necessária para salvar vidas. As constantes trocas de farpas e acusações entre autoridades como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tornam o debate público politizado, no sentido pejorativo do termo.

“Quem tenta usar a política para fazer algum tipo de exploração do tema por interesses pessoais, como os propósitos de se promover ou de atacar um adversário, mostra desrespeito à vida e despreparo para o cargo. Ficar disputando ou tentando prejudicar o avanço da ciência é extremamente condenável”, afirma.

Deputados contra a pandemia

Embora a Câmara Federal tenha bancadas inteiras manifestando oposição às aquisições e aplicações em massa das primeiras desenvolvidas para o combate à covid-19, Domingos Sávio afirma que está no outro lado do debate.

“Tenho procurado cumprir a minha parte com deputado federal agindo com rapidez para aquelas condições necessárias para que o governo federal possa garantir destinação orçamentária não só para o enfrentamento da covid-19 no dia a dia, repassando recursos aos municípios e às áreas da saúde, mas também com a garantia orçamentária de recursos para a aquisição de vacinas. Isso já está aprovado no orçamento”, detalha.

Plano nacional

Na percepção do deputado, ainda falta ao governo federal definir e pôr em prática um plano nacional de vacinação. Para ele, estratégias já fartamente adotada pelos países que lideram o combate à pandemia têm se mostrado capazes de garantir a imunização de várias populações.

“Nosso plano precisa alcançar todos os brasileiros, sem exceção. Observando-se, claro, alguns critérios. Não temos condições imediatas de termos 420 milhões de unidades de vacina, sendo 210 milhões da primeira dose e mais 210 milhões da segunda. Com a estrutura que temos, também não conseguiríamos imediatamente aplicar tudo isso de uma vez só. Um plano nacional deve não só tentar conseguir o máximo de unidades possíveis utilizando todos os laboratórios que produzam vacina de qualidade, mas estabelecendo um critério que alcance todo o Brasil”, analisa.

Também a exemplo do que ocorre em países da Europa, dentre outras regiões, a prioridade para profissionais da saúde também é defendida pelo deputado.

“Esses trabalhadores estão expostos a um risco maior e nós precisamos que eles continuem à disposição para atender às pessoas que estão contaminadas. Em seguida deverão vir as pessoas idosas, por serem mais frágeis à doença, por já terem outras enfermidades. Primeiro às pessoas de 70 e, depois, 60 anos”, pontua.

Embasamento

Domingos Sávio é médico veterinário com especialização em biomedicina. Estudou imunologia e outros ramos das ciências biológicas que, a seu ver, contribuem muito para a percepção que tem sobre a segurança das vacinas.

“Tenho 100% de confiança em afirmar que a vacina é a melhor alternativa. Contra a covid-19 há o mesmo baixo risco que é percebido em todas as outras vacinas distribuídas há anos nas redes pública e particular, como aquela contra a gripe comum, que tomo há muitos anos”, comenta.

A Pfizer, empresa responsável pelo desenvolvimento de uma das vacinas contra covid-19 que já vêm sendo aplicadas em vários países, defende que quem não se vacina não coloca apenas a própria saúde em risco, mas também a de seus familiares e outras pessoas com quem tem contato, além de contribuir para aumentar a circulação de doenças.

“Para quem não se vacina contra covid-19 ou qualquer outra doença para a qual já antídoto, o risco de pegar as doenças e morrer é muito maior. Tomar a vacina é uma questão de bom senso e respeito à vida. Tão logo seja possível, darei meu exemplo tomando a vacina contra covid-19”, finaliza Domingos Sávio.

Tratamento contra covid-19

O tratamento de Sávio durou 21 dias. O deputado conta que quando os primeiros sintomas da doença surgiram, ele resolveu se isolar em casa. Em uma ida ao Complexo de Saúde São João de Deus, a equipe médica percebeu baixa oxigenação no sangue e decidiu internar o paciente. A alta aconteceu quatro dias depois.

De volta à recuperação em casa, participou pela internet de reuniões da Câmara Federal. Marcou presença e fez pronunciamentos. Com um novo teste negativo, ele agora descansa no período de recesso parlamentar.