Medida é tentativa de minimizar a superlotação da unidade de Divinópolis, Centro-Oeste e desocupar vagas para pacientes em estado crítico

Amanda Quintiliano

Marcelo Lopes

Pelo menos cinco pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Divinópolis, Centro-Oeste de Minas, recusam internação hospitalar todas as semanas para não terem que ir para outras cidades da região. Só nesta segunda (30), três casos foram registrados. A partir de agora, eles ou os acompanhantes terão que se responsabilizar pelos riscos de ficarem na unidade sem o devido tratamento.

O medida é uma das várias pretendidas pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS). A entidade assumiu a gestão da UPA nesta segunda-feira (30) com a promessa de fazer “mais com menos”. O orçamento será 40% menor que o anterior, passando de R$ 2,6 milhões/mês para R$1,5 milhão/mês. O quadro de funcionários caiu de 359 para 192.

O desafio está em eliminar a fila de espera e consequentemente a superlotação da unidade. Hoje, há 42 pacientes cadastrados para transferência. Para reduzir este número, algumas manobras serão feitas na tentativa de minimizar o problema que é alimentado, principalmente, pela insuficiência de leitos e deficiência da cobertura da atenção primária.

Uma das estratégias será o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Os pacientes e ou acompanhantes irão assina-los ao serem admitidos na unidade. Nele, será informado que o tratamento será oferecido, mesmo que não seja no município de origem.

“E que ao recusar essa possibilidade não temos condições de ficar com este paciente aqui”, explica o diretor técnico, Marco Aurélio Lobão.

Os pacientes de baixa e média complexidade preferem ficar na unidade aguardando a vaga no Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJ) a irem para outros municípios. Entretanto, isso gera outro gargalo: superlotação do único hospital de alta complexidade da macrorregião responsável por 55 cidades e uma população estimada em 1,5 milhão de habitantes.

“Esses pacientes que poderiam ser tratados em outras unidades superlota o São João ocupando vagas de um caso de maior complexidade”, explica a diretora de Urgência e Emergência, Cristiane Silva Joaquim.

Aqueles pacientes que não forem transferidos por decisão própria ou dos representantes, irão assinar o termo de recusa.

“Quem não quer ir, é ele. Então é preciso se apropriar disso, da responsabilidade que tem sobre a sua própria assistência”, destaca a diretora. 

Samu amplia integração no sistema

A nova gestora foi apresentada nesta terça (01) (Fotos: Amanda Quintiliano)

A partir de agora, a regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) amplia sua integração com o Sus Fácil.

“Se um paciente, necessitar de um leito hospitalar para sua condição clínica e esse leito compatível existir na região, o Samu entrará em ação e levará o paciente para o local de destino, em consenso com a Regulação do Sus Fácil”, explica o secretário-executivo do Cis-Urg, José Márcio Zanardi.

Na prática, desde quinta-feira (26), o Samu, com base no mapa de leitos da região, com autorização do Sus Fácil, faz a transferência dos pacientes para unidades hospitalares da região, otimizando a utilização de leitos ociosos. São usuários do Sus que necessitam, por exemplo, de cirurgias ou tratamento clínico, em caráter de urgência relativa, e não se enquadram no perfil de encaminhamento para as Salas Vermelhas. Antes, o Serviço atuava em casos restritos a urgência e emergência. Em menos de uma semana, a média de pacientes/dia na UPA reduziu cerca de 30%.

Outras portas de saídas

Com promessa de reduzir o tempo médio entre espera e atendimento, o assessor técnico do IBDS, Paulo Henrique Silva, anunciou a implantação de alguns sistemas. Dentre eles, uma metodologia de disparador de tempo de qualidade. Os resultados de exames não podem ultrapassar 50 minutos.

“Isso abrevia a estadia do paciente aqui na UPA e a decisão clínica é tomada de forma mais rápida”, argumenta. 

Será criada uma unidade para os pacientes classificados pelo protocolo de Manchester como verde e azul, ou seja, aqueles considerados sem ou com pouca urgência. Apesar das inovações prometidas, a entidade reconhece que elas não são suficientes para deixar os corredores vazios.

“Precisamos do investimento na atenção primária, de retaguarda de leitos, a UPA é um dispositivo assistencial, pré-hospitalar”, afirma.

Apesar de baterem firme na “conscientização” da população para buscarem os postos de saúde antes de irem até a UPA, a cobertura não garante toda essa assistência. Os Programas Saúde da Família (PSF’s) cobrem 52% da população de Divinópolis e as Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) 80%. Mesmo assim, os usuários esbarram em outra dificuldade: falta de médicos. Atualmente, quatro unidades estão sem.

Os leitos também são deficitários. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SUS) existem 1339 cadastrados na macrorregião Oeste, divididos da seguinte forma: 576 clínicos; 290 cirúrgicos; 165 obstétricos; 124 pediátricos; 131 complementares; um psiquiátrico; e 52 de outras especialidades.

Uma das esperanças é a conclusão do Hospital Regional. Com obras paradas desde 2016, ele terá capacidade para até 500 leitos. Ainda não há previsão para a conclusão.  O governo do Estado publicou a Tomada Pública de Subsídios (TPS). Ele visa obter estudos e levantamentos que subsidiem a elaboração de modelos de negócios.

Dentro desta proposta, o Cis-Urg já demonstrou interesse em assumir a gestão da unidade. Um modelo deverá ser apresentado ao Estado até 30 de outubro deste ano para ser avaliada.