Semed justifica brinquedos com custo de R$ 10 mil cada desistalados na escola que obteve o pior desempenho do Ideb
Play Balls parados e a queda do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) levantaram debate sobre a aplicação de recursos públicos na educação em Divinópolis. Dois Play Balls – brinquedos com custo estimado em R$ 10 mil cada – foram encontrados esta semana desinstalados em um canto da Escola Municipal Professor Bahia, no bairro Nova Holanda. A instituição obteve o pior desempenho do Ideb de 2023 na cidade, como mostrou o PORTAL GERAIS.
Os aparelhos, instalados em várias escolas, principalmente de educação infantil, tornaram-se alvos de polêmica devido ao alto custo e à baixa finalidade pedagógica. A revelação dos valores do brinquedo ocorreu durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que apurou o superfaturamento em compras da Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Educação Divinópolis: diretora justifica
Em vídeo compartilhado nas redes sociais, a diretora de educação da Semed, Jordana Bueno, rebateu as denúncias de abandono como “fake news”. Nomeando o brinquedo como “recurso pedagógico”, alegou que o espaço onde haverá a instalação passou por adequações. Isso, devido ao início do atendimento à educação infantil na escola.
“A reforma segue um cronograma de execução e, por isso, os recursos pedagógicos que estavam desalocados estavam apenas aguardando a devida instalação”, argumentou.
Má gestão do recurso público
Presidente do Conselho Municipal de Educação de Divinópolis, o professor José Heleno Ferreira afirma que os investimentos públicos, além de outros fatores, impactam no desempenho das escolas.
Os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) da rede municipal de educação de Divinópolis tiveram o pior resultado do Ideb, conforme o Inep. Em 2023, registrou 4,9 pontos, contra 5,4 em 2021, quando houve a avaliação anterior, representando uma queda de 0,5 ponto. A Escola Professor Bahia obteve 4,2 pontos.
O Ideb é o resultado de um cálculo que considera o fluxo, ou seja, a taxa de aprovação de estudantes, e o aprendizado, considerando as avaliações externas, mais especificamente o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
“Há não muito tempo, a Prefeitura Municipal de Divinópolis foi acusada de superfaturamento na compra de brinquedos e móveis. Embora essa situação tenha sido legalmente resolvida, há que se discutir os investimentos na educação pública”, afirmou.
Educação Divinópolis: ensino integral
O Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, conforme José Heleno, estipulou como uma das metas que, até 2024, 50% dos estudantes deveriam estar recebendo uma educação em tempo integral.
“Estamos muito distantes de cumprir essa meta. Na rede municipal de ensino, temos duas escolas que oferecem educação em tempo integral para os anos iniciais (1º ao 5º ano) do ensino fundamental. Nenhuma oferece os anos finais (6º ao 9º ano) em tempo integral”, analisou.
Ele ainda cita problemas relacionados às bibliotecas escolares.
“A ausência de bibliotecários, por exemplo, e de espaços para a prática de esportes e realização de atividades culturais, que sabemos serem fundamentais para o avanço da capacidade de aprendizagem, além da falta de espaços e práticas de incentivo à pesquisa, entre tantos outros”, completou.
Reflexão
Embora cite os investimentos em educação como um dos fatores, a queda do índice está ligada, principalmente, a outras causas, conforme pontua o professor.
Para ele, medir o índice de aprendizagem sem considerar o contexto socioeconômico dos alunos de diferentes unidades escolares não contribui para a construção de uma proposta pedagógica de qualidade.
“Apenas revela uma realidade que já conhecemos”, enfatiza.
Os piores índices, de acordo com José Heleno, estão nas unidades escolares situadas em áreas periféricas, como é o caso da Escola Professor Bahia. Já os melhores resultados são alcançados por unidades escolares mais próximas ao centro da cidade.
“Extrapolando o universo da rede municipal de ensino, por aquelas que realizam processos seletivos ou que oferecem vagas para um público específico”, completa.
Em Divinópolis, a melhor nota ficou com o Colégio Tiradentes, 6,8 pontos. Da rede estadual, a escola atende, principalmente, filhos de militares.
“Ou seja, muitos dos problemas enfrentados pelas escolas têm suas raízes fora delas: a pobreza, a violência, a dificuldade de acompanhamento escolar por parte das famílias, entre tantos outros”, analisa.
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Impacto da pandemia
Para além do cenário socioeconômico, José Heleno aponta a queda do Ideb à “forte influência do período de isolamento social, ocasionado pela pandemia de Covid-19”. Na época, as unidades escolares ficaram fechadas por quase dois anos.
“Sabemos que o ensino remoto, principalmente para as classes populares, não funcionou ou funcionou muito precariamente. A retomada do ensino presencial não considerou essa realidade, e os meninos e meninas voltaram para a escola como se nela estivessem o tempo todo. Ou seja, aqueles que se afastaram no quinto ano de escolaridade retornaram no oitavo, como se tivessem cursado o sexto e o sétimo anos”, explica.
Por outro lado, ainda conforme o professor, há uma política pública educacional no município e em todo o país cada vez mais voltada para o pragmatismo e o tecnicismo.
“Haja vista, na rede municipal de ensino, os projetos envolvendo o empreendedorismo ou, em um nível mais amplo, a aferição de habilidades e competências definidas por uma Base Nacional Comum Curricular que busca homogeneizar as escolas e os estudantes.”