Prefeito de Divinópolis responsabiliza a própria categoria por não ter pago o salário e pressiona vereadores a aprovar projeto

Após deixar agentes comunitários de saúde e endemia (ACS e ACE) sem salário, o prefeito de Divinópolis Gleidson Azevedo (PSC) se referiu a parte deles como “meia dúzia de laranja podre”. A declaração foi feita em vídeo, compartilhado por ele nas redes sociais, nesta segunda-feira (7/11), numa tentativa de forçar vereadores a votar o projeto EM 63/2022.

Ao fazer o vídeo, o prefeito afirmou que o dinheiro está na conta da prefeitura para pagamento dos profissionais.

“Mas eu dependo do poder legislativo para poder autorizar este pagamento. Os vereadores são a favor, tão ali para poder votar”, empurrou para os parlamentares.

Em seguida, responsabilizou parte dos próprios agentes pelo não pagamento.

“Agora, pasmem. Vocês acreditam que meia dúzia de agente, dos próprios agentes de saúde não está a favor de votar esse projeto? Agora, por que? Por que essa meia dúzia de laranja podre está querendo prejudicar os outros agentes? Peço, humildemente aos vereadores, que amanhã (terça) possam votar esse projeto de lei para poder autorizar e o dinheiro cair em conta dos agentes”, disparou.

Ele ainda lembrou que há outras áreas previstas também no projeto que dependem da aprovação para liberação do dinheiro.

“Esse projeto não é só para autorizar o pagamento deles não. Tem dinheiro para pagar o São João de Deus e a UPA também para não poder prejudicar a população”.

Polêmica

A alegação do governo é que não há dotação orçamentária para o pagamento da categoria. A matéria em questão, autoriza a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) a abrir crédito adicional suplementar de R$ 16,9 milhões. Parte do valor (R$ 6,1 milhões) é para o salário, o restante para outros setores da saúde.
Entretanto, o projeto foi sobrestado pelo vereador Roger Viegas (Republicanos) a pedido dos próprios profissionais. A ideia é protelar a votação até que o prefeito decida pagar as progressões com base no piso nacional dos agentes.

A prefeitura tem adotado um “complemente salarial” para não pagar o valor integral requerido pela categoria.

Com a pressão dos profissionais, na semana passada, a vice-prefeita Janete Aparecida (PSC) condicionou o pagamento do salário à aprovação do projeto. A justificativa é de que se trata de “legalidade”. Na sexta (4/11) foi quitada a folha de pagamento dos demais profissionais.

As argumentações e a pressão não convenceram os agentes. Junto com o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis (Sintram), cerca de 80 profissionais, pediram que o sobrestamento do vereador fosse mantido e que, no eventual não depósito da remuneração, seria impetrada ação contra o governo. A assembleia será realizada ainda hoje para definir os próximos passos.

Roger Viegas chegou a acusar o governo de querer dar “pedalada” com o dinheiro dos agentes. Ele disse já ter tirado as dúvidas técnicas sobre o projeto. Entretanto, afirmou que, por ser verba carimbada, não haveria impedimento legal para a prefeitura pagar o salário dos profissionais na sexta-feira (4/11) com o restante da folha de pagamento até que houve a votação do projeto.

Ele ainda disse que manteve o sobrestamento a pedido dos cerca de 80 profissionais que participaram de reunião com o Sintram.